"Se trabalhais há mais de 40 anos e ainda não tendes casa própria, é plenamente justificável que vos revolteis.
Se trabalhais há mais de 36 anos e ainda não tendes uma viatura em condições, é plenamente razoável que vos revolteis.
Se trabalhais no duro há mais de 30 anos e ainda não tendes 12.000 euros de poupança, para a velhice, é plenamente lícito que vos revolteis.
Se trabalhais seriamente desde os 18 anos e aos 47 ainda não auferis um rendimento mensal superior a 1.300 euros, é profundamente aceitável que vos revolteis.
Se estivesteis a estudar durante 11 anos e depois, aos 19/20, não encontrais trabalho, é perfeitamente aceitável o vosso descontentamento.
Se não tendes um centro de saúde a menos de oito quilómetros de casa, é admissível o vosso grito de revolta.
Se precisais de ir antes das oito horas da manhã para um centro médico a fim de garantir consulta, é de toda a justiça que vos revolteis.
Se há ordenados abaixo dos 600 euros por mês, é caso para que toda a nação se revolte.
Se há sete ou oito por cento dos portugueses dos 18 aos 63 anos que estejam no desemprego, é caso para descontentamento geral.
Se uns têm duas ou três viaturas e outros nem uma só é caso para revolta.
Se uns ganham 4.800 euros mensais e oitos apenas 970, é caso para reflectir e para concluir que muito está ainda por fazer.
O estado do país nestes últimos cinco ou seis anos é deveras alarmante. É decerto muito diferente do desejável; e daquilo que teríamos previsto em 1974/1975/1976.
O estado de Portugal é desesperante. É preciso dizê-lo. É preciso gritá-lo."
Jorge Heitor 28 de Dezembro de 2007
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