20080319

Um testemunho de Graça Pimentel

GP deixou um novo comentário na mensagem "Contratados coagidos a assinarem requerimento a pe...":
Estive a ler tudo o que aqui já foi escrito e não posso deixar de me manifestar.
Eu não tenho medo de me identificar. Chamo-me Graça Pimentel e sou professora de Física e Química há cerca de 36 anos. Já dava aulas antes do 25 de Abril e tudo o que se passou, a partir daí, já me levava a pensar que a educação acabaria tragicamente, o que está a acontecer. Digo o que penso, escrevo o que digo e assumo o que escrevo. Mais. Penso pela minha cabeça e o que diz a maioria dos políticos é, para mim, irrelevante. Eles pensam exclusivamente neles próprios. Escrevi durante vários anos, artigos sobre educação, num semanário, em que “atacava” ministério, sindicatos, professores e pais sempre que considerava que as posições que tomavam mereciam a minha reprovação.
Durante anos e anos foram marcadas greves por motivos que eu considerava menores. Os motivos de fundo, infelizmente, só agora aparecem.
Eu pensei muito sobre a avaliação, que é um tema delicado, e elaborei a minha proposta. O mínimo que os sindicatos deviam ter feito era trabalhar no sentido de elaborar uma proposta de avaliação e divulgá-la. Desconheço a contra-proposta apresentada pelos sindicatos ao ministério quando começou a falar-se de uma nova avaliação de professores. Já a pedi à FENPROF por duas vezes mas... nem resposta. Se alguém a conhecer, agradeço que a divulgue.Eu sou a favor de uma nova avaliação mas elaborada com cuidado de forma a ser justa e isenta. Não aceito trabalhar diária e directamente com cerca de duzentas pessoas e ser avaliada por duas. Até pode dar-se o caso de um professor ser avaliado por duas pessoas às quais não reconhece mérito para tal. O concurso para professor titular foi a vergonha que todos vimos. E o que se fez? Quase nada. Eu fui provida como professora titular, mas a minha indignação foi imensa e manifestei-a por escrito.
Muitas vezes, quando surgiram conflitos na educação, escrevi aos grupos parlamentares, à Ministra, ao Presidente da República e ao Procurador-geral da República. Sei que um mail que chega lá tem como destino a tecla delete. Mas se chegassem milhares, talvez tivesse algum peso.
Desculpem, colegas, a minha sinceridade mas a posição dos professores tem sido mais a da lamúria do que a da acção.
Lamento as posições que os Conselhos Executivos estão a tomar. Vejo e ouço o que passa nas escolas que conheço. Estão a querer agradar à Ministra e deixam de lado os colegas que os elegeram. Estarão agarrados ao poder? Quererão ser os próximos reitores? Medo das DREs? Mas que poder têm as DREs? O poder corrompe a todos os níveis. Quando o ministério pede um “papel” os Conselhos Executivos pedem logo três ou quatro para caírem nas boas graças do ministério. A burocracia está a tornar-se insuportável. O tempo para fazermos aquilo que deveria ser a nossa principal função está a escassear cada vez mais. O medo também reina nas escolas. Há professores que já não emitem opiniões porque sabem que ela chega rapidamente ao conhecimento dos “poderosos” do Conselhos Executivos.
Os professores têm todas as razões do mundo para estarem desmotivados, descrentes e desanimados.
Não perdoo a esta equipa ministerial o ter-me roubado o prazer que eu tinha em exercer a profissão que abracei e a que dediquei uma vida.
Cumprimentos solidários
Graça Pimentel

Publicada por GP em ramiromarques a 19 de Março de 2008 12:22

1 comentário:

rendadebilros disse...

Graça Pimentel - li este post e a sua resposta ao sr. António Ribeiro Ferreira. As sua palavras são claríssimas, mas é preciso saber do que se fala. Como todos parecem agora "treinadores de bancada" , todos t~em palpites sobre EDucação e Avaliação de Professores. Mas a frase que me fez escrever este comentário e com a qual me identifico perfeitamente foi o parágrafo "Não perdoo a esta equipa ministerial o ter-me roubado o prazer que eu tinha em exercer a profissão que abracei e a que dediquei uma vida." É o que a mim me dói e revolta ( terei 35 anos de serviço no final deste ano lectivo) - terem conseguido tirar-me a alegria com que sempre fui para a Escola para junto dos meus alunos. Agora sinto-me doente da injustiça que todos nós sofremos e estou a perder o encanto e o entusiasmo... irei com bem pena minha aposentar-me logo que possa , que não há nervos que suportem esta humilhação pela situação que nos criaram...

Grande abraço, Graça.