20080312

Professor do Ano

Aí está outra vez o Prémio Professor do Ano. Foi por muitas coisas que desfilámos na Avenida. Esta é apenas uma pequena razão mas, nem por isso, deixa de traduzir um sinal do que é a equipa da Sinistra. Há um ano atrás deu-me para tratar o assunto com esta história, pode ser que tenha perdido o enquadramento que lhe deu origem mas, ainda assim, aqui fica de novo pró que der e valer.
Primitivo carregava há muitos anos o estigma do título de “stor”. Passara os anos de entusiasmo do professor acrobata, deixara de acreditar na escola como mãe de todas as soluções, acomodara-se a ser um mero empregado do Estado. Nos últimos tempos, o ensino era o mal da moda no “país da culpa para cima de alguém” e o professor Primitivo aceitara cabisbaixo o espezinhamento público do seu estatuto e conformara-se, tal como todos os outros, com os dedos que se lhe apontavam. Resguardava a sua consciência no quotidiano do dever cumprido e, informado como era, sabia que definitivamente o futuro já não lhe pertencia. Diariamente os decisores políticos vinham ao palanque dos telejornais anunciar novas medidas que deixavam o senso comum com a ideia de que a educação estava a mudar mas dentro das escolas essas medidas apenas agravavam o caos e a desmotivação quer entre estudantes quer entre professores. O entusiasmo de anunciar era tanto que o governo começou a delirar e à superfície da opinião pública começava finalmente a pairar o fumo da razão. Foi neste ambiente de declínio e desespero que o Ministério da Educação lançou a iniciativa de abrir concurso para a eleição do Professor do Ano. Para Primitivo esta era a oportunidade da sua vida. Sempre fora um especialista a prestar provas, apresentar relatórios de projectos e investigações, a colorir o cinzento de actividades escolares. Senhor do seu tempo e conhecedor dos corredores das escolas e dos diplomas sabia muito bem cozinhar os perfumes que encantam os políticos e académicos que mandam nas coisas. Estava decidido, os 25000 euros do prémio poderiam ser seus. A fazer: reconhecer a ideia que os idiotas teriam do professor do ano; anotar os procedimentos da candidatura; convencer os colegas e a direcção da escola do interesse comum. Depois, um documento dali, um power point de acolá, um testemunho favorável, duas ou três aulas encenadas e estariam reunidos os elementos necessários. Seis meses passados a notícia foi recebida lá na vila como um euro-milhões e Primitivo, feliz contemplado, saltou da sua pacata descrição para as entrevistas e até para a televisão. De modéstia em modéstia esperou a sua hora na cerimónia da entrega do prémio. Para que o nervosismo não o atraiçoasse, preparou as palavras uma a uma, consciente de que o momento seria o ponto alto da sua vida pública. Claro que começou por dizer que não merecia aquele prémio e que ele era também dos seus alunos, da sua escola, da sua mãe e de muitos outros colegas de profissão que melhor que ele o mereciam.O caldo entornou-se quando continuou: - Este prémio é o símbolo do ridículo em que se transformou a política desta ministra e deste ministério. A figura do Professor do Ano é uma patética iniciativa e a minha candidatura foi uma maquiavélica encenação para conseguir este palco. Senhora Ministra estes 25000 euros foram roubados aos meus colegas, mas não pense que vai ficar com eles… Escusado será continuar a relatar a festa … os senhores do ministério coraram, o caso foi notícia, a ministra foi apanhada num voz-off infeliz e foi demitida e Primitivo nunca mais recebeu os 25 mil euros.

1 comentário:

Anónimo disse...

do ponto de vista militar a sinistr é "um canhão sem recuo"