20080401

Biografia não-correcta, não-autorizada e não oficial de Maria de Lurdes Rodrigues


Neste blogue praticam-se a Liberdade e o Direito de Expressão próprios das Sociedades Avançadas
Dedicado à Helena F.
Olá, o meu nome é Maria de Lurdes Rodrigues, embora também me tratem, carinhosamente, pelo "Tumor da Educação". Oficialmente, nasci em 19 de Março de 1956, embora, como uma senhora nunca diz a verdadeira idade, e eu bem tente ser uma senhora, devam pôr-lhe, pelo menos, mais 5 aninhos em cima...
Quando nasci, o meu pai biológico agarrou-me nos braços, olhou para mim, e apontou para a minha mãe, gritando: "este... ser, que tu acabaste de dar às trevas..., não tem boca, mas uma FENDA, no lugar da boca!... Só pode ser filha do Demo".
É triste, uma criança ouvir o seu próprio pai soltar estas palavras, ainda antes de ter podido começar a berrar, como fazem todos os nados-mortos de Badajoz. E assim fiquei marcada para toda a vida: abandonada num cestinho, fui recolhida num contentor, por uma velha daquelas que arrastam os sacos e falam sozinhas, e colocada à porta de um colégio da Casa Pia.
A minha infância foi passada entre paredes cheias de humidade e com cheiro a bafio. Todas as noites vinha um político acordar-me e meter-me a mão entre as pernas, para logo a retirar, horrorizado: "larga, que não é rapaz!...". Só muito mais tarde percebi que estava a ser arredada de todo o forrobodó do Cenário Português, e disse, para mim mesma, "Lurdes, tu nunca foste abusada, mas um dia vingar-te-ás!..."
Fui sempre uma aluna fraca, indo pouco às aulas, e preferindo ficar nos sanitários do recreio, a praticar actos contra a natureza, com um crucifixo roubado ao Mestre Américo, o único que olhava para mim, e dizia sempre: "com uma fenda no lugar da boca, hás-de ir longe, rapariga..."
A minha vida sexual iniciou-se atrás de um tapume de umas obras rascas, em Marvila, quando um homem sem dentes, e com um balde de cimento às costas, me chamou para umas ervas, dizendo, "anda cá, rapariga, que tenho uma coisa muito boa para te mostrar..." Disse-me que era engenheiro daquelas construções, e mostrou-me uma coisa pequena e murcha, com dois sacos pendurados, e uma cabeleira por cima, parecida com o penteado do meu amado coadjuvante de hoje, Valter Lemos. "Se quiseres, podes pôr aí a boca... E, se não quiseres, pões à mesma, porque a mim é o que me apetece agora..."
Só muito mais tarde sobre que se tratava de um trolha, mas desde então, como Jung explica, fiquei vidrada em engenheiros em forma de trolha, e nunca mais esqueci aquele pintelhe..., perdão, penteado, a transbordar das calças-macaco manchadas de gesso.
Estávamos a viver os últimos tempos do Antigo Regime, e um dia vieram buscar-me à camarata, para me dizerem que o Senhor Presidente do Conselho, Marcello Caetano, já não mandava nada. Houve um frémito de terror por todas aquelas camas, porque ia deixar de haver políticos a ir buscar crianças, altas horas, para práticas imorais!... Lembro-me de me terem posto à porta da rua, com um farnel com duas carcaças e um chouriço de Barrancos dentro, e me dizerem, "vá, faz-te à vida, que tens bom corpo para isso!..."
Como poderia uma pobre rapariga, com uma fenda no lugar da boca, fazer-se à vida, e foi então que descobri os grandes ensinamentos do Grande Educador da Classe Operária, o Camarada Arnaldo de Matos, e os seus braços-direitos, José Manuel Durão Barroso e Pacheco Pereira. Lembro-me de comícios de grandes touradas, de gajas de perna aberta, em cima de secretárias de Catedráticos, a serem comidas por militantes cabeludos e contínuos à beira da reforma, e a saírem de lá já com diplomas na mão. Em mim, nunca pegaram, nem tive direito a diploma, e eu jurei vingar-me.
Havia, na altura, na "Capital", uma coluna de anúncios casamenteiros, e respondi, uma vez, só por desfastio, a um Professor Primário de Samora Correia, que procurava uma rapariga humilde, séria, limpa e honrada. Marcámos um encontro à porta da "Pensão Serafina", no Intendente, e lembro-me de ter visto um coxo, sem dentes, e com um olho mais acima do que o outro, a olhar para mim, e a dizer-me: "... eu pedi uma mulher com boca, e saiu-me uma tipa com uma fenda abaixo do nariz, que miséria de vida..." Mas, os tempos eram maus, e lá casámos, ele sempre tinha mais estudos do que eu, e acabou por meter uma cunha, lá nos padres que frequentava, para eu poder dar aulas na Primária.
Fui humilhada, por miúdos ranhosos, que, quando eu lhes perguntava quanto eram 2 vezes 2, me respondiam "2 x 2 é a cona da tua mãe!...", o que só me fazia soltar lágrimas, de ter sido abandonada, de pequenina, à porta da Casa Pia.
O Professor Doutor Oliveira Salazar sempre tinha proíbido as Licenciaturas em Sociologia, já que a Sociologia se baseava em voláteis vapores da Sociedade, apresentando-os como traves mestras da História. As pessoas deixavam de ser entes sólidos, e passavam a ser fatias de Opinião, na mente de pensadores com inclinações esquizofrénicas. Eu, todavia, que sempre gostei de perfumes baratos, achava que um mau-cheiro deveria ficar para sempre, e inscrevi-me, trabalhadora-estudante, de dia, professora, à noite, escrava de queimar pestanas, a ler Durkheim. Acabei o meu curso em 1984, já com a idade de 28+5 anos, e com a média arredondada para 10, o que fez de mim um exemplo grato das mais representantes correntes da contemporaneidade.
Devo dizer que conheci, nesses tempos, gente muito interessante, o meu colega Ferro Rodrigues, o meu ex-companheiro de militâncias Pacheco Pereira, e muitos outros, que, mal ouviram dizer que vinha da Casa Pia, tudo fizeram para que eu integrasse os Quadros do I.S.C.T.E.
Nessa altura, já o meu marido me batia muito. Viciado no álcool, a sua existência eram sucessivas baixas psiquiátricas, durante as quais passava o tempo a agredir-me com a fivela de um cinto. Desde então, jurei vingar-me de todos os Professores.
Aos 33 anos, ainda era virgem, e contei com o meu ingresso no I.S.C.T.E. para embarcar nas rebaldarias reinantes no Ensino Superior. Já me via numa bancada de Catedrático, de perna aberta, a ser comida por livres-pensadores, mas a verdade é que ninguém se interessava por mim, nem sequer o Dr. Ferro Rodrigues, e muito menos o seu colega mais novo, Paulo Pedroso.
Em 1997, Mariano Gago abriu-me os lindos olhos, e disse-me que ali ninguém gostava de mulheres, muito menos de mulheres com fenda, em lugar de boca... Nessa altura, já o meu marido me tinha tornado num cinzeiro ambulante, -- eu fui o James Dean do I.S.C.T.E... -- e o nosso matrimónio resumia-se a apagar-me cigarros nas costas.
A partir de aí, e depois de um penoso divórcio, entregaram-me a Presidência do Observatório das Ciências e das Tecnologias do Ministério da Ciência e da Tecnologia -- eu era a Gata Borralheira do I.S.C.T.E... --, para poderem andar, a tempo inteiro, nosrapazitos, até a coisa estoirar, com a Felícia Cabrita e o Procurador João Guerra, no Escândalo "Casa Pia". Lembro-me, desses tempos, de ver muitas caras, anteriormente sorridentes, com um ar fúnebre, como o meu, quando hoje vou às entrevistas televisivas.
Tive um período de depressão profunda, em que só me apetecia matar quem quer que se me atravessasse à frente, até que o José Sócrates, um homem acessível, carinhoso, e encarregado de abafar as idas aos meninos do "Casa Pia", e com uma formação de trolha que me fazia lembrar o meu primeiro, e único, contacto com a sexualidade, me ter apresentado Valter Lemos. Diz, Freud, que os anos mais importantes da nossa vida são os passados na Casa Pia, e tem razão: ao ver aquele ar de caniche, com um penteado igual à pintelheira do meu trolha inicial, percebi que a minha vida ia finalmente dar uma volta profunda.
Desde então, ocupo a Pasta da Educação, e estamos, ambos, a tentar fazer aqui o que o Grupo de Macau, a última possessão socialista na Extrema Camorra, e o Chile, de Pinochet, fizeram à Educação: com 20 anos de atraso, poupar e fazer regredir as mentes até os elevados padrões dos servos de gleba da Idade Média.
Eu sei que a vossa derradeira curiosidade se prende com a minha fenda, e eu vou agora satisfazê-la: no fundo, eu sou como aqueles avisos, nos postos móveis de Multibanco: qualquer tentativa de assalto, fará imdiatamente despejar tinta sobre as notas, inutilizando-as para sempre. É verdade...: se a minha fenda de cima ainda se exibe nos vossos écrans plasma, dai graças a deus, já que a de baixo, se alguma vez for forçada, imediatamente será coberta com sucos corrosivos, como as cuspidelas dos chocos-com-tinta, e posso assegurar-vos que, ninguém, mais do que, sofre com a Natureza me ter talhado assim, mas foi o que o Destino quis, e eu, sua serva, tenho de acatar...

5 comentários:

Anónimo disse...

Bem-vindo caríssimo Arrebenta!
Imagine que acordei hoje de uma 'torporada' gripe que não me larga desde Sábado e dei com esta surpresa!!!
Bjinho :)

Unknown disse...

Não tendo simpatia pela senhora, acho este texto de um tão lamentável mau gosto que diz tudo sobre o seu autor ou autores. Deveriam ter a coragem de assinar por baixo.
Se são professores, estou envergonhado de os ter como colegas e com pena do tipo de conhecimentos e valores que transmitem aos alunos.
José A. Silva

Anónimo disse...

Texto magnífico! Vinte valores.

Anónimo disse...

O José A. Silva deve ter problemas na fenda :-)

Anónimo disse...

José's e Silvas há muitos ... assinar por baixo não é necessário neste caso dado o Arrebenta ser membro e amigo deste blogue.

Garfield, Silva e José ...Para mim, o anónimo é o sr.

O Arrebenta é como é e como colaborador da Sinistra, escreve o que lhe apetecer. É um personagem. Procure na Wikipédia.