Dedicado a todos os que escrevem e lêem o nosso espaço
No Princípio, era o "Animatógrapho", e o "Animatógrapho" se fez "Olympia", e o "Olympia", "Cinebolso", e Deus viu que era bom.
Quando meu amiggo y souber que me appanhou por el tardar e lheu desser que foy por soer muy baratto, e de dia inteiro, e nelle se amontoavam "Amellia de as Marmittas", y m'ailla "Côxa", do Salittre, e "Laura", que não soía ser de Pettrarca, mas mais próçima da "Mikas, a Muñeca de Cêra", e do "Muleta Negra", ay, deus, e os marujos, e o "Ze da Tarada", ay, deus, y u são?...
Ay deus, y os marujos, que Cesariny, y tanto soía chuchar,
ai, deus, y u são?...
"Em outro dia estavom mui gramdes temdas armadas no ressio a çerca daquel moesteiro, em que avia gramdes montes de pam cozido e assaz de tinas cheas de vinho, e fora estavom ao fogo vacas emteiras em espetos a assar", pelo que sorte foy que nom ouvessem gentes da ASAE que per ali passassem, senão fechava a "Gingiña" e outros luggares. Sorte deles, pois com suas marmitas, por ali se contava o "caso de um filho da Duqueza de Bejar, soffrendo desde creança de "deliquios" e "syncopes", e merevilhosamente curado com a pedra bezoar [...] que eram piquenas, pouco maiores que um caroço de tamara", mas, bem chuchadas em um vaam de escada, dela se tiravam milagres, como soía ser voz corrente entre homens cazados.
Dzia Dona Bocarra Guimarães, cuja boda branca se foi soer ser pela Unesco, depois de lhe deixar prenha de um rebento, que se fazem grandes línguas com grandes escritos. "Confesso os cómodos desta profissão, mas não ignoro os incómodos, que, quando outros não tivesse, senão aquele mau costume de ler sempre por ruim letra, não era pensão fácil", pois não, sobretudo em épocha em que até em pharmácias e para-pharmácias e hypermerccados se vendêrem merdunças como o "Rio das Flôres" e as Crónicas do teu Cabaço, sempre largo com um inchaço, tudo isto para dizer, que Língua, a ser feita sempre de Outroras, nunca tinha saído da nora antiga, cepa torta e coisa pouca, e agora muito mais queirósiana, meus amigos, desde Saussure que o que a mão escreve não condiz com o visto pelo olhado, nem a massa sonora se faz sentido da forma estreita com que o Tempo grafa o que é para ser grafado. É o milagre da Fé, e, ou a Língua se faz, e escreve, por quem a fala, ou logo encrenca num qualquer atoleiro de sinal de rua única sem sentido, e que seria de nós, se a Língua subitamente perdesse o sentido?...
É tudo um hábito, como Pavlov diria, e até os psiquistas das coisas do quotidiano dizem que um sorriso de mãe, quando visto pela criança deitada, é indiferente de vir de cima, ou de baixo, direito, ou inverso, lê-lhe aquela alma, dos sentimentos, sempre como o sorriso maternal, e essa é a essência, mesmo, do que é essencial.
Vem agora a parte dura: o Nobéle Português, que Deus Nosso Senhor finalmente parece estar em vias de levar para junto de si, deo gratias, nada fez pela Língua, excepto fazê-la regredir aos tempos do Senhor Dom Francisco Manoel de Mello, e quem fala desse cabaço fala de outros quejandos -- hoje, estou todo frenicoques e regionalismos... -- as Lídias Jorges (muito tens de praticar, pá, és muito fraquinha...), os Mários Cláudios, que mandam tudo para Lisboa, para corrigir os erros, e os malfadados regionalismos, a sinistra Agustina, que o Mário Viegas, já na fase de bater a bota (bóta/bôta/botta) bem descreveu, e passo a citar: "A Agustina já era fascista antes de haver Fascismo!..." (aí, fadista, também já lá estás...), e não são os indefensáveis pergaminhos de 10 000 000 de desgraçados, na sua maior parte incultos, novo-oportunizados, ou oportunistas, como queiram, que vão construir uma Língua, assente em três vernáculos e quatro palavrões, quando não mete um fático "bué" entre o "caralho" e o "foda-se" -- o "camano" está um pouco fora de moda, mas sempre lá se encontra um taxista que o pronuncia, com o acento do assento do banco de trás.
Se não houver talentos à altura de escrever a Língua, e de fixar qualquer grafia que seja, a todos os pares seus entendedores, bem podem os Velhos e os Novos do Restelo ladrar contra os Milhões da Terra de Vera Cruz, também chamada Brasil.
Do lado de cá, os grandes intelectuais e defensores da coisa pública, os grossistas da Língua e do Direito de Autor capitularam incondicionalmente: o monstro chama-se "Editora Leya" (repare no "y"...) feita de Asa, Caminho, D. Quixote, Gailivro, Novagaia e Texto, a chancela angolana Nzila e a editora moçambicana Nadjira, feita de grandes militantes do internacionalismo e da fronteira nacional, gente séria, chamada, por exemplo, António Lobo Antunes, José Saramago, Eduardo Agualusa, Mário Cláudio, Manuel Alegre, Lídia Jorge, Mia Couto, Alice Vieira ou Rosa Lobato Faria, entre outros. O golpe foi elementar: rasgar contratos originais, e assinar novos, com a LETRA Y -- nem Bilderberg faria melhor... Ah, sim, e a genial cabeça disto tudo é Paes do Amaral, que logo nos remete, para quem não percebeu, para o meu enigmático início de texto...
O fim ainda é "mais mau": A Sinistra Ministra e os Lindos Olhos de Mariano Gago breve vos trarão as outras razões escatológicas destas urgências: continuem a ler Saramagos, Vascos Graças-Mouras e Tolinhos Tolentinos, do meio tostão, que a resposta já está dada, e firmada, o Accordo Ortográphico é tão só a auto-estrada pela qual os Professores de todos os Ciclos, do Canto-Chão, até ao Universitário, virão, do Outro Lado do Oceano, ocupar, com avidez, quando se rebelarem, contra salários e condições de trabalho, os vossos belos postos de trabalho, e o sotaque, meu deus, até o sotaque, pois então, pois nesta época de coxos, mancos e canejos, só o cifrão do € não sofreu alteração, pois não, como diria o outro, para rimar, pois não, com certeza que não...
( Edição simultânea, em forma de quatro pés de suporte de caixão, no "A Sinistra Ministra", "Democracia em Portugal", "KLANDESTINO" e "The Braganza Mothers" )
1 comentário:
Quem não está avorrecido com o acordo orthográfico?
Esperemos que este acordo não passe subrepticiamente como o outro de Lisboa.
JSerra
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