O desporto ( mais a sua indústria) ensina-nos a ser competitivos!
A educação dos jogos cooperativos habitua-nos, ao invés, a ser solidários e fraternos.
A ideologia desportiva pretende vender-nos, à socapa, e à custa de uma falsa ideia de neutralidade da actividade desportiva, os valores caros às sociedades capitalistas: uma concorrência feroz entre as equipas e os jogadores, o elitismo dos melhores, o nacionalismo, o culto da perfomance, a passividade do espectador-cidadão e as perversões alienantes da sociedade do espectáculo, etc.
Acresce a isso, nos últimos anos, a subtil montagem e manipulação das emoções das pessoas, a que já nos vamos habituando a assistir periodicamente, quando aquelas são convidadas ( e autorizadas, bem entendido) a berrar, buzinar, e a cometerem os desvarios do costume, enfim, a emocionar-se por motivos, que são, no geral, muito bem programados, e que, de imediato, são vendidos às massas com objectivos inconfessáveis, mas onde o lucro está sempre presente, regra geral, associado alarvemente a operações de manipulação, com a vantagem suplementar de, ao contrário dos carnavais de outros tempos, não existirem em tais excessos as habituais críticas ao poder estabelecido.
Com os espectáculos desportivos como o que nos entram pelos olhos ( e cérebros) dentro, o que se pretende é então alimentar a ilusão de um mundo em que cada equipa ( de cada nação, ou de cada cidade) tem as mesmas oportunidades de ganhar ( de vitória) como as demais, quando se sabe perfeitamente que assim não é, até porque as melhores equipas se constroem com investimentos milionários, só possíveis a quem for titular do real poder do capital.
Uma operação mental deste calibre permite alimentar junto dos mais desprevenidos a ideia ilusória de que, por exemplo, as nações colonizadas podem vencer as equipas das super-potências colonizadoras, ou de que - o que vai dar ao mesmo - os pobres só podem subir na escala social se tiverem talento suficiente para alcançarem o nível social dos ricos, por mais estúpidos e broncos que estes sejam.
A nossa bolsa de valores é o oposto a tudo isso. Queremos um mundo em que não haja necessidade de derrotar, e muito menos, de esmagar, quem quer que seja, para nos sentirmos bem. Queremos um mundo onde o gosto de jogar derive do prazer da partilha e do «estar em comum» e jamais da vitória ( e esmagamento ou massacre) sobre o outro.
Também rejeitamos a identificação às bandeiras de um qualquer Estado nacional, do mesmo modo que julgamos desprezíveis as manifestações ruidosas de rua dos adeptos fanatizados em glória aos vencedores.
Os campeonatos do mundo e da Europa do futebol, junto aos Jogos Olímpicos, são bem exemplos ilustrativos de todos esses valores que sub-repticiamente nos querem impingir, com a falsa ideia da neutralidade do desporto, devidamente embrulhada numa não menos falsa ética aplicada à competição feroz entre os jogadores-adversários em contenda.
A ideologia desportiva é, com efeito, tanto mais forte e insidiosa quanto mais invisível e discreta ela se mostrar…
Sejamos solidários uns com os outros.
Não alinhemos com a ideologia dominante da concorrência e da competição social( mesmo, dentro do desporto) das sociedades capitalistas.
Não à manipulação e à lavagem cerebral que nos transformam em agentes (…, isto é, em agenciados pelo poder) inconscientes da competição concorrencial do mercado
Por uma educação cooperativa e solidária entre todos os seres vivos.
1 comentário:
Sim, o «desporto» tornou-se ritual nacionalista também.
Tornou-se catársis das frustações populares.
Substitui o mito sebastiânico... é uma transfiguração do «quinto império».
Etc.
Mas não sei se a melhor coisa é fazer apenas jogos cooperativos: devíamos treinar o fair-play com outras equipas.
Deverá haver sempre diversas equipas numa sociedade, umas dedicadas a uma coisa e outras a outra... algumas vezes em 'concorrência' (MAS SEM «COMPETIÇÃO»), outras em cooperação.
De facto é o jogo mais popular do mundo porque impregna / está impregnado de ideologia burguesa, porém foi um desporto «popular» anti-elitista.
Só se tornou desporto de massas, mais tarde. O grande aproveitamento da «bola« em Portugal deu-se com o Eusébio, porque ele projectou o nome de Portugal e foi aproveitado pelo regime do Salazar para mostrar que «havia harmonia racial» no «império».
Em termos de etologia humana, é
interessante e continua actual o ensaio do Desmond Morris (de 1979)
«A tribo do futebol»
(Europa-América)
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