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Um ministro não pode ignorar que a sua exposição pública é diferente da do cidadão comum. Esse elevado grau de sujeição ao escrutínio dos cidadãos cresce com a vulnerabilidade de determinadas pastas e volta a crescer se o titular entra em confronto permanente com os que funcionalmente tutela. Por outro lado, quando a sede das declarações públicas é uma entrevista de fundo, obviamente preparada e meditada, concedida a um "jornal de referência", a dias do debate sobre o Estado da Nação e a encerrar este polémico ano lectivo, as asneiras ganham uma dimensão insuportável. O que a ministra da Educação disse ao Expresso de 5 transacto foi grave. Sem esgotar os factos, que o espaço não o permite, vejamos como Sua Excelência asneou:
1. Finalmente, disse que tinha dado instruções ao GAVE quanto aos exames, depois de ter repetido, vezes sem conta, a sua não intervenção e a independência daquele órgão. Qualquer cidadão sabe que o GAVE depende hierárquica e institucionalmente da ministra. Está no diploma orgânico!
2. "O objectivo dos exames não é comparar", disse. Um aluno meu de avaliação educacional que escrevesse tal disparate chumbava liminarmente. Podemos concordar ou discordar dos exames como instrumento de avaliação ou classificação. Mas avaliar, e por arrastamento classificar, já que se pode avaliar sem classificar mas não se pode classificar sem avaliar, é, fundamentalmente, comparar. Aliás, ela própria, logo que saíram os primeiros resultados, desdobrou-se em comparações infindáveis. Ilegítimas, mas foi o que mais fez. Não se enxergou quando falou ao Expresso!
3. "Disse que em Portugal se chumba muito, que sai caro ao país", afirmaram-lhe os entrevistadores. "Nunca disse isso", respondeu. Estamos loucos, ou foi o que mais lhe ouvimos? Mas nem necessitamos procurar as referências. Sete linhas à frente declarou: "Claro que a repetência nos sai cara. Permanentemente no sistema educativo temos 40% de repetentes. O sistema investe com eles o dobro ou o triplo do que com os outros alunos". Que trapalhada, para além de nem sequer saber fazer contas elementares!
4. Perguntada sobre o papel dos sindicatos respondeu: "... Diria que algumas políticas sindicais prejudicaram a escola pública, como por exemplo o modelo centralizado de concurso". Só nos faltava, depois de nos ter revelado que os Açores não são Portugal, dizer-nos agora que os sindicatos é que definiram as politicas e decretaram o regime dos concursos.
5. "Como é que gostava de ser recordada?", é a vigésima segunda pergunta. A mesma pessoa que acabava de inaugurar uma patética galeria de retratos de todos os ministros que a antecederam, lançar um livro comemorativo de memórias e obviamente tomar a iniciativa de promover a sua própria presença para a posteridade no hall do ministério (esperamos todos que dentro do mais curto espaço de tempo possível), respondeu com este lapidar cinismo: "Não penso nisso. Não trabalho para a memória. Não me faça perguntas dessas que me deixa atrapalhada."
O que fica, supra, são aspectos caricatos, colhidos a título de exemplo. A irrelevância das respostas e das não respostas (que são em maior número) fazem o resto.
Texto retirado daqui
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