O Estado das Coisas
O bom governanteEm democracia, o bom governante é aquele que coloca o interesse público acima de todas as coisas.
O que enxerga longe, o que tem capacidade de articulação e de negociação. O que tem coragem para decidir bem, contra os interesses instalados. Mas é, sobretudo, aquele que não teme corrigir os seus erros, quando sabe e tem consciência de que a sua acção está a prejudicar a causa pública e os interesses do Estado. Ser bom governante não significa ser bom político. Ao bom governante exige-se mente aberta, espírito de missão, honestidade e que não faça as coisas com mau sentimento. A visão, a audição e o tacto são três sentidos que servem para distinguir o bom do mau governante.
O mau governante, o que pensa ser dono da verdade, perdeu agilidade e finura de sentidos, e quando assim é quem perde é a democracia e a cidadania. Fazer as coisas bem feitas e cumprir as metas a que se comprometeu são, sem dúvida, enormes virtudes, mas ‘emendar a mão’, quando necessário, sem ser calculista, é a virtude primeira do carácter humano.
Neste retrato, neste mosaico de características pessoais e humanas, designadamente na componente do reconhecimento público do erro, são muito poucos os governantes que não são míopes e surdos. Saber e ter consciência de que se fizeram leis cujo impacto é negativo, que em vez de melhorarem só vêm agravar a situação, e persistir nesta atitude só para salvar a pele e não ficar mal na galeria de fotografias, é ser, com toda a certeza, um mau governante que a História não deixará de apontar.
O actual Governo tem maus governantes, que não se importam com as consequências sociais e públicas das suas medidas legislativas, ainda que o País fique mais inseguro e mais perigoso. O relevante para estes governantes é que fica mal mexer em leis recentemente aprovadas, ainda que de efeitos nefastos. Se fossem gestores de uma qualquer empresa privada seguramente que já tinham tido guia de marcha. Mas como se trata do sector público, o povo que aguente as experiências legislativas, porque servem como cartão de visita para um bom ‘tacho’ quando saírem do Governo.
Decidir bem e com acerto é também não ter medo de corrigir os erros, é não ter receio de dar a mão à palmatória, nomeadamente quando essa alteração visa proteger a melhor saúde, o melhor ensino ou a melhor e mais eficaz justiça.
Quem se sentir tentado que procure neste Governo a agulha no palheiro.
Rui Rangel, juiz desembargador
Texto publicado AQUI
Após a leitura deste texto, uma, uma e uma só figura me aflorou instantaneamente o que ainda resta de neurónios
É claro que, logo a seguir, apareceu uma bicha (desculpem...), digo, fila, deles...
3 comentários:
Só pensou nessa? E os outros?
Causaram uma sangria.
Hoje foi outra, 28 aninhos, licenciatura em química, da minha terra, já de si deserta de gente nova, que segue os passos de tantos outros e parece que para não mais voltar.
Da minha aldeia, com formação superior, conheço três. Os outros, com o ensino obrigatório ou com o secundário, há muito que abalaram e não os vejo com vontade de regressar.
Em rigor, não me lembro de ninguém, entre os 25 e os 45 anos, que lá viva.
Caro João,
de facto, como disse, pensei de imediato só nessa avantesma, mas eis senão quando, tal como disse:"É claro que, logo a seguir, apareceu uma bicha (desculpem...), digo, fila, deles...". Os estropícios aparecem todos em imagens de filme em negativo diante dos meus olhos...
Tem razão, eu li. Peço desculpa. Atabalhoamento meu.
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