20080906

As Eleições Americanas: o Velho, o Rapaz e o Burro

É verdade que a Reentrada Política, em Portugal, está refém do escândalo Pedroso, da chuvada na "Festa do Avante" e na Lei da Rolha do Cadáver do P.S.D. É natural que eu também continue à espera, para depois poder descarregar o meu armamento pesado, mas na direcção certa. Entretanto, como diria Álvaro de Campos, o Mundo vai acontecendo, e não acontece de feição.
As Eleições Americanas, que, quer se queira, quer não, vão influenciar todos os arredores desta porcaria, esticam-se em todas as direcções. Adoraria que aquelas perpétuas investigações em que andam das vidas privadas uns dos outros, e se a outra tem uma filha grávida sem pai, ou não, se pronunciassem, por exemplo, em terem uma cabeça de Governo com psoríase em Inglês Técnico... enfim, outros mundos, embora ridículos, onde certas coisas não se passariam, até porque acontece passarem-se piores, e bem piores.
"En passant", acho que pela S.I.C., onde estava um trio daqueles camafeus do costume, que acham que são comentadores, mas que, no meio dos "pá" e dos "como diz o pessoal" já estavam no nível de taberna usual, e a mostrarem-nos que, apesar de "divergentes", se davam muito bem uns com os outros -- é por essas e por outras que isto chegou ao estado a que chegou... -- e que debicavam em redor das Eleições Americanas.
O Partido Republicano e o Partido Democrata, se eu quisesse explicar isto a uma analfabruta das Novas Oportunidades ou um Secretário de Estado corrido por faltas injustificadas seriam, esticando muuuuuuuuuito a analogia, uma coisa parecida com o P.S.D. e o P.S., ou seja, na gíria, vira o disco e toca o mesmo.
Na realidade, as coisas não são assim, mas isto não é hora para eu andar com metafísicas políticas. Uma coisa se me tornou evidente, no momento em que Obama -- o gajo em que eu nunca votaria, porque já o conheço cá, na forma de Sócrates -- foi declarado como tendo inclinado "à Esquerda", enquanto o outro, respeitável pelo seu passado, mas com aquele ar de quem só se mantém de pé graças às célebres injecções, tinha ido buscar uma gaja, com ar daquelas telefonistas dos filmes do Hitchcock, e que representava a direita da Direita, ou seja, contas feitas, ambos estavam a tentar ganhar os extremos, e já não o Centro, onde estas coisas se costumam decidir.
Não é novidade para ninguém de que há brisas de Neo-Autoritarismos por toda a parte, desde cá, a França, a Itália, a Rússia e mais uns quantos que não me vêm agora ao toutiço, e a América, portanto, estava apenas a embarcar, à sua típica maneira, nessa brisa do Radical, e enquanto aquelas alminhas comentadoras, num nível de tasco, e obsoletas argumentações, com bases de dados completamente fora de prazo, não percebiam que estava a acontecer um pouco o que acontece, na forma de patologia, por toda a parte: uma Desintegração mal assumida de todos os eixos ideológicos orientadores, ou, por palavras outras, um assentar no volátil, no contingente, na aparência, no "penso que", no "acho que é", e , sobretudo nos perigosíssimos silêncios oraculares, que, entre nós, conduziram a Sócrates, que sempre poderá invocar que nunca prometeu nada daquilo que dele esperavam, e é quase verdade, ou do Aníbal de Boliqueime, que foi eleito por uma multidão ávida de idiotice, quase sem ter soltado um copito dos seus célebres perdigotos.
O resto não é melhor, e enquanto não iniciarmos a nova guerra deste Outono, vai-se ficar pela analogia Americana: ao extremar os seus partidos clássicos, a América Política está a fazer um apelo surdo ao seu Inconsciente Profundo: pouco importa o que pensam, dizem, ou prometem, porque as verdadeiras Convenções desenvolvem-se em Território de Dante, no velho "Id" Freudiano. Desta vez, não temos ideias em jogo, temos velhos atavismos, guerras do Fundo dos Tempos, a serem veladamente trazidas para as urnas: façam uma experiência, desfoquem o vosso microscópio, esqueçam as grelhas de interpretação habituais, e imediatamente verão, em cena, dura e cruamente, tão-só os arquétipos do "Branco", da "Mulher" e do "Preto", com todas as ressonâncias e consequências negativas que isso possa ter, no calcinado imaginário da América Profunda. É isso, e só isso, a menos que aconteça um milagre, que teremos neste desgraçado Novembro de 2008.

(Pentagrama bocejante no "Arrebenta-SOL", na "Sinistra Ministra", no "Democracia em Portugal", no "KLANDESTINO" e no "The Braganza Mothers")

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