RESPOSTA À DREN
Exmos. Srs.
Sou professora há vinte e oito anos. Durante todos estes anos não tive o prazer de receber uma única carta (a Internet é uma invenção recente) nem um e-mail dos vossos serviços, excepto quando fui convidada pelo então ministro David Justino para participar nos Encontros de Caparide, sobre os novos programas de Português. Este convite deveu-se ao facto da minha escola ter estado durante cinco anos consecutivos nos cinco primeiros lugares dos Rankings dos Exames nacionais do Ensino Secundário e de eu ser uma das professoras responsáveis pelos resultados. De repente, recebo duas comunicações endereçadas por no reply a convidar-me a colocar os meus objectivos on-line (provavelmente para me poupar trabalho e para evitar ter que os discutir com a minha avaliadora, conforme a lei obriga) e ainda três esclarecimentos enviados pelos vossos serviços. Assim gostaria de esclarecer:
1º Não sou loura nem burra;
2º Sei ler e interpretar a legislação, que mal seria se o não fizesse sendo professora de Português, mas, admitindo que o não fosse, tenho amigos e familiares advogados e juízes sempre prontos a esclarecer-me;
3º Desde o concurso para professores titulares, considero que os vossos serviços não merecem a honra de me contactarem nem de receber em uma resposta minha;
4º Durante vinte e oito anos de serviço dediquei a minha vida à escola, e expensas da minha própria família (prescindi mesmo da licença de amamentação do meu filho para orientar estágio, a pedido do Conselho Directivo, por não haver ninguém disponível e para não perdermos o núcleo de estágio);
5º Na escola onde lecciono, a Secundária de Barcelos, dos professores no 9º escalão, só eu e uma colega do mesmo Departamento ocupámos um tão grande número de cargos. Estive durante três mandatos no Conselho Executivo, fui Directora de Turma, orientei o estágio da Universidade Católica de Braga, orientei estágio na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (Docente de Apoio Pedagógico), fui Coordenadora dos Directores de Turma, fui Coordenadora de Departamento e de Secção. Dos cargos existentes na escola só não fui Directora da Biblioteca nem doutras instalações, nem pertenci à Assembleia de Escola;
6º Quase todos estes cargos foram exercidos antes de 2000, ficando, por isso, fora dos sete anos escolhidos para a candidatura a Professor Titular (Portugal deve ser o único país em que Curriculum Vitae não significa toda a vida mas apenas sete anos. A propósito, fui confirmar e no meu processo há registo de todos os meus cargos, de todas as minhas faltas, horários de todos os meus anos lectivos ao contrário do que a Sra. Ministra afirmou quando justificou que o concurso só dizia respeito aos últimos sete anos por falta de registos anteriores;
7º Quase me esqueci de mencionar (pois para o Ministério parece ser o menos importante) que fui professora, tenho anos lectivos sem uma única falta, os meus alunos continuam a ser excelentes nos Exames Nacionais, fiz, para me actualizar todas as acções do Projecto Falar sendo, por isso, Professora Acompanhante dos novos programas de Português;
8º Consegui no concurso para Professora Titular 124 pontos mas não tive vaga, pelo que não passo duma mera professora, que nas palavras da Sra. Ministra não pertence ao leque dos professores excelentes que os pais devem ambicionar para os seus filhos. Na minha escola, num outro Departamento, uma colega é Titular com oitenta e poucos pontos, o mesmo acontecendo noutras escolas;
9º Como aparte devo referir que muitos dos meus antigos alunos desejam que eu seja a professora dos filhos, sabe-se lá porquê!
10º Neste momento, de acordo com a lista graduada da minha escola, descobri que estou no limbo (apesar do papa o ter extinguido) pois apenas tenho o meu índice remuneratório, não pertencendo a nenhum escalão. Assim, e em jeito de conclusão, agradecia que parassem de me enviar e-mails. Para o caso de não lerem este, vou assinalar no meu o vosso endereço como spam evitando assim enervar-me sempre que vejo o vosso contacto. Sem mais
A. M. B.
(Recebida por email)
8 comentários:
Completamente despropositada, a afirmação de que a colega "não é loira nem burra".
"Bárabra",
Louras é o que há mais por aí... e as que não são burras já se estão nas tintas para a expressão...
Bom Natal!
Essa recorrência "da loira burra" parece-me absolutamente despropositada. Quanto ao resto, também parece despropositada a atitude de puxar pelos galões ao debitar as proezas que conseguiu ao longo de toda a vida profissional. Uma pequena dose de humildade não lhe ficava nada mal.
Tem assim tanta vontade de ser titular? Já agora, devo dizer-lhe que tenho esse título e que me estou cagando para ele.
Mais: sei lá se sou boa professora ou não... lá que me esforço, esforço:-)
Obrigada
Anónima das 11:40( se diz "obrigada", deduzo que é mulher), não sou a autora do post inicial, mas identifico-me com ela a 100%!!! E sabe porquê? Não é essa coisa de puxar pelos galões ( até nisto somos um estupor de colegas profissionais onde impera a mordacidade bacoca e despropositada!)é, antes de mais, uma espécie de dor de perda, é o não reconhecimento de toda uma vida dada à profissão, sem lugar ao cinzetismo, ao "dar aulas" como quem vai dar uma volta pela feira...Francamente!
Se o comentário anterior saiu duma mente de um prof, pergunta-se: qual o espanto sobre os comentários do ti Zé da esquina já farto de tanta algazarra dos profs? São uns calaços...claro. Se um putativo prof escreveu o comentário anterior, pergunta-se: como exercerá a sua docência se nem consegue discernir o que seria, vá lá, "gabarolice" ( que não é!) e a apresentação objectiva dum curriculum? Com "colegas" destes vamos longe! E se forem desta estirpe alguns avaliadores, o País vai longe!
Haja pachorra para tanta burrice e cretinice!!!
C. Abreu
"que me estou cagando para ele."
Mais palavras para quê?! Eis aqui, pela pena duma douta professora presenteada com a chapa dourada de titular, a categoria de algumas aves raras que irão deter nas suas mãos o destino de outros colegas! Eis aqui o exemplo acabado de alguns professores titulares, ciosos do seu olimpozito, onde, pelos vistos, a "merda" tem lugar assente.
Parabéns ME, entregaste os destinos da educação a quem merece! Tudo a condizer...
Um Zé
Eis aqui a "unidade"...
Eis aqui a compreensão...
Eis aqui o retrato...
Eis aqui o não conseguir discernir mérito de pontos...
Eis aqui o "estado a que isto chegou"...
Sabem que mais? Até ao ano lectivo passado, eu não pensava assim; agora, faço parte daqueles 75%Infelizmente... E se gosto do que faço!
Esqueci-me de dizer:
e sou insuspeita... para o bem e para o mal também sou titular... (de quê?)...
Sou a comentadora anónima das 11:40.
Permitam-me, por favor, debitar alguns palavrões e, também, justificar-me sobre o que registei. Sou, tal como a maioria de nós, contra a avaliação. O que escrevi,não passa de um discurso emotivo correspondendo a uma reacção primária (confesso)relativamente ao texto da nossa colega de Barcelos. Será que todos nós, professores, tais como ela, não foram dedicados à escola tendo desenvolvido um trabalho honesto com o objectivo de promover a educação de todos os portugueses? Nunca fui fiscal do selo e muito menos agora.
Repito: ESTOU-ME CAGANDO para os títulos e não é o calão que uso que faz de mim uma má profissional.
Boa noite. Só mais uma informação: será que a nossa colega que nem é burra nem loira, se lembra dos sacrifícios dos professores que, à altura em que carregava tantos cargos, andavam pelas montanhas do Alto Minho, a viver sem condições e sujeitos à humilhação de ter que lidar com os tiranetes e padres das aldeias sempre a coca ??? !!
Por favor, haja decência...
ps. Não tenho qualquer problema em fornecer a minha identidade: é só pedirem.
Boa noite
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