É só doutores
Passou sem polémica o alargamento da escolaridade obrigatória até ao 12º ano. Pediram-se apenas melhores condições para as escolas e o inevitável ajustamento das leis laborais. Mas ninguém formulou a questão básica: e se, por absurdo que pareça, nem todos os alunos tiverem capacidade intelectual para chegar ao 12º ano?
Que fazer? Baixar, ainda mais, os níveis de exigência do ensino secundário para distribuir democraticamente os diplomas? Tudo perguntas proibidas. Para o romantismo educacional, o sucesso escolar nunca depende da inteligência do aluno. Depende das condições que o rodeiam, do esforço dos professores e até do eventual milagre do santo padroeiro.
O que espanta neste optimismo é o governo não ser ainda mais ambicioso e alargar a escolaridade obrigatória até ao doutoramento. Mas lá chegaremos.
João Pereira Coutinho, Colunista (http://www.correiodamanha.pt/)
6 comentários:
A responder do fim para o início, começo com uma gargalhada, não pela desgraça...
Se uma escola não chega, pense-se em duas sérias.
também li esse artigo, pensei logo nalgumas crianças que conheci e que nem o 1º ciclo conseguiam fazer. Já as imagino com o diploma do 12º.
Brilhante ideia... se não fosse tão sinistro!
o mais sinistro é que muita gente vai passar fome, ou, no mínimo, reduzir o nível de vida, para pagar o que supostamente já paga em impostos.
Alguns podem dizer que se está a re-iniciar pelo telhado. Tal como a reconstrução das Escolas Secundárias enquanto as Básicas são maioritariamente paupérrimas.
Estou a ver um diplomado com 84 anos, deve ter feito o 12º ano em 2 anos. Parabéns a este Governo ... Parabéns aos portugueses ...
Aproveitemos o pouco tempo que nos resta antes de ser tarde demais.
Moriae
Quase não percebo a razão de tanto alarido... Não é fatal que a escola obrigatória de 12 anos seja pior, tenha um nível menor, etc.
que a escola tal como está! Diria que a escola secundária, tal como está, não preenche sequer a sua função no «tardo-capitalismo», de fornecer alguma mão de obra qualificada, medianamente instruída, capaz de se especializar em cursos com interesse prático, que tanta falta faz neste país de «doutores». Note-se que num país como a Holanda, por exemplo, é normal as pessoas optarem por um percurso profissionalizante, não tendo isso a ver com as disponmibilidades das famílias, mas com a motivação do/a estudante. Neste, como noutros países (estou a pensar na Suíça, porque conheço directamente alguns exemplos) cultiva-se desde há vários séculos a excelência do trabalho bem feito, o profissionalismo é reconhecido e remunerado condignamente. Os jovens sem elevada motivação para estudos prolongados, deveriam ter real opção de formações curtas. A razão porque isso não é assegurado em Portugal tem a ver com o complexo neo-colonial e tipifica o nosso atraso, industrial ou produtivo, mas também de memntalidades e cultura.
A questão que se coloca é portanto: vamos fazer vias profissionalizantes sérias e honestas, que não sejam «vielas» onde se vão parcar aqueles que não têm «inteligência» (sobretudo origem de classe...) suficiente para singrar pela «avenida real e central» de todo o ensino não superior... a preparação para a universidade?
Manuel Baptista
Acabo de linkar "A Sinistra Ministra" na minha lista de Blogues Favoritos no Blog "Pérola de Cultura" http://peroladecultura.blogspot.com
Espreitem. Abraços.
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