Tenho percebido um pouco por todo o lado que os professores andam soturnos porque sussurram que a manifestação de dia 30 não vai ter por lá cento e tal mil pessoas; e que era muito importante que lá estivessem cento e tal mil pessoas porque aquilo que os juntou uma, duas vezes, é o mesmo que agora ainda todos pensam. Dizem que já muitos entregaram objectivos, elegeram cgts, recrutaram directores e agora têm vergonha de gritar num lado uma coisa que na prática não cumpriram noutro e que, por essas e por outras, ficou a unidade amputada, a classe dividida, e não vai ser possível juntar outra vez cento e tal mil pessoas.Desculpem-me os activistas e os amedrontados pela sua própria consciência mas acho este raciocínio completamente pacóvio.
Antes de mais nada, sempre que ouço falar deste embaraço antecipado que sentem por esta manifestação não ir reunir tanta gente como deveria, creio que alguém se está a esquecer do que realmente significa juntar em Portugal cem mil pessoas de uma mesma classe profissional. Parecemos um daqueles soldados napoleónicos que, depois de ter encontrado a pedra de Rosetta, anos depois do achado ainda não tinha a noção do que fizera por uma civilização inteira. Aqui, como se percebe, deixo que entre em cena a minha costela de historiador. Creio ser indispensável recordar que nunca mais nada do género se fará em Portugal tão cedo e que os professores fizeram história, quer isso se reconheça, quer não. E que isso, ninguém nos tira.
Ou seja, essa vitória, que ninguém esperaria lograr, foi conseguida. E dessa vitória resultaram importantes conquistas. A senhora ministra, em pleno Parlamento, mostrou-se disponível para deixar cair o seu próprio modelo, “mas não este ano”. A senhora ministra recuou nas mais aberrantes propostas que o modelo de avaliação inicialmente exigia que fossem cumpridas. E foi obrigada a fazê-lo por duas vezes. E isto não aconteceu por causa de outra coisa que não fosse a nossa justa campanha.
Em todos os partidos da oposição, em todas as crónicas dos opinion-makers, é voz corrente que esta equipa ministerial é duma incompetência arrogante e desorganizada que não tem paralelo. Esta convicção unânime não nasceu do nada; estes incapazes ficarão para a história por causa da maior incúria legislativa e desorientação educativa desde que há democracia em Portugal. De nada poderão orgulhar-se. Já viram? Nada. Nem uma coisinha pequenina. Por seu turno, os professores já pertencem à melhor história recente deste país, como aqueles que produziram a maior manifestação profissional de sempre. E isto, meus amigos, digo-o com a serenidade de quem passou grande parte da sua vida a pensar como devem as coisas ficar escritas em livros de História.
A honorabilidade dos professores, da sua união, foi tão impressionante e tão eloquente que nada, por muito irrisória que fosse a manifestação de dia 30, nada pode minimizar o que mais importa: os professores ficam na história pelas melhores razões e este governo perde a sua desejada maioria por causa dos professores. Repito-o, isto só acontece por causa do que já fizemos. A culpa é toda nossa. Dizer-se que estamos soturnos com os nossos insucessos é, por isso mesmo, historicamente, uma miopia grosseira.
Se até aqui nos erguemos contra um modelo de gestão e de avaliação estúpidos, agora juntamo-nos para lembrar a todo o país, aos nossos alunos, que sempre que nos unamos com aquela dignidade cívica que demonstrámos antes, o veredicto da história ser-nos-á devidamente lisonjeador.
Diverte-me muitíssimo que nos reunamos para dizer adeus a este ministério. Porque é o que irá acontecer. Aqui há uns tempos sugeri um modelo de manifestação mais festivo, com canções e alegria. Era por isto. Por saber que há hoje, mais do que antes havia, muitas razões para esse júbilo.
Voltarmos a Lisboa exige, portanto, uma outra atitude: é uma celebração antecipada. Por mim, vou a Lisboa deitar foguetes antes da festa. E irei levando comigo essa minha saloia satisfação, porque sei que esta, ao contrário de todas as outras, representa o selo histórico que há muito todos os professores desejam carimbar: o adeus a esta equipa ministerial.
Cada campanha tem sempre muitos desfechos. A história está cheia disso. Nunca ninguém ganha tudo. Acho que há quem julgue que devia ser assim com os professores. Isso é parvo. Ganhamos umas. Perdemos outras. É por isso que a campanha continua. Mas uma delas, uma das mais ambicionadas, é nossa e diz-se assim:
“Adeus”
No próximo dia 30 erguemo-nos de novo para dizermos a todos os portugueses e à história que os professores podem parecer David, mas Golias vai cair. Vejam bem, até a Bíblia foi escrita só para falar de coisas destas. Por isso vos digo: com OIs entregues ou não, com directores ou com caps (e, aqui em Sto Onofre, não podemos gastar os confettis todos porque um dia destes comemoraremos também o CAPs LOCK), com fichas de avaliação ou não, só se fossemos uns bimbos é que não nos juntávamos para celebrar a coisa devidamente.
Antes de mais nada, sempre que ouço falar deste embaraço antecipado que sentem por esta manifestação não ir reunir tanta gente como deveria, creio que alguém se está a esquecer do que realmente significa juntar em Portugal cem mil pessoas de uma mesma classe profissional. Parecemos um daqueles soldados napoleónicos que, depois de ter encontrado a pedra de Rosetta, anos depois do achado ainda não tinha a noção do que fizera por uma civilização inteira. Aqui, como se percebe, deixo que entre em cena a minha costela de historiador. Creio ser indispensável recordar que nunca mais nada do género se fará em Portugal tão cedo e que os professores fizeram história, quer isso se reconheça, quer não. E que isso, ninguém nos tira.
Ou seja, essa vitória, que ninguém esperaria lograr, foi conseguida. E dessa vitória resultaram importantes conquistas. A senhora ministra, em pleno Parlamento, mostrou-se disponível para deixar cair o seu próprio modelo, “mas não este ano”. A senhora ministra recuou nas mais aberrantes propostas que o modelo de avaliação inicialmente exigia que fossem cumpridas. E foi obrigada a fazê-lo por duas vezes. E isto não aconteceu por causa de outra coisa que não fosse a nossa justa campanha.
Em todos os partidos da oposição, em todas as crónicas dos opinion-makers, é voz corrente que esta equipa ministerial é duma incompetência arrogante e desorganizada que não tem paralelo. Esta convicção unânime não nasceu do nada; estes incapazes ficarão para a história por causa da maior incúria legislativa e desorientação educativa desde que há democracia em Portugal. De nada poderão orgulhar-se. Já viram? Nada. Nem uma coisinha pequenina. Por seu turno, os professores já pertencem à melhor história recente deste país, como aqueles que produziram a maior manifestação profissional de sempre. E isto, meus amigos, digo-o com a serenidade de quem passou grande parte da sua vida a pensar como devem as coisas ficar escritas em livros de História.
A honorabilidade dos professores, da sua união, foi tão impressionante e tão eloquente que nada, por muito irrisória que fosse a manifestação de dia 30, nada pode minimizar o que mais importa: os professores ficam na história pelas melhores razões e este governo perde a sua desejada maioria por causa dos professores. Repito-o, isto só acontece por causa do que já fizemos. A culpa é toda nossa. Dizer-se que estamos soturnos com os nossos insucessos é, por isso mesmo, historicamente, uma miopia grosseira.
Se até aqui nos erguemos contra um modelo de gestão e de avaliação estúpidos, agora juntamo-nos para lembrar a todo o país, aos nossos alunos, que sempre que nos unamos com aquela dignidade cívica que demonstrámos antes, o veredicto da história ser-nos-á devidamente lisonjeador.
Diverte-me muitíssimo que nos reunamos para dizer adeus a este ministério. Porque é o que irá acontecer. Aqui há uns tempos sugeri um modelo de manifestação mais festivo, com canções e alegria. Era por isto. Por saber que há hoje, mais do que antes havia, muitas razões para esse júbilo.
Voltarmos a Lisboa exige, portanto, uma outra atitude: é uma celebração antecipada. Por mim, vou a Lisboa deitar foguetes antes da festa. E irei levando comigo essa minha saloia satisfação, porque sei que esta, ao contrário de todas as outras, representa o selo histórico que há muito todos os professores desejam carimbar: o adeus a esta equipa ministerial.
Cada campanha tem sempre muitos desfechos. A história está cheia disso. Nunca ninguém ganha tudo. Acho que há quem julgue que devia ser assim com os professores. Isso é parvo. Ganhamos umas. Perdemos outras. É por isso que a campanha continua. Mas uma delas, uma das mais ambicionadas, é nossa e diz-se assim:
“Adeus”
No próximo dia 30 erguemo-nos de novo para dizermos a todos os portugueses e à história que os professores podem parecer David, mas Golias vai cair. Vejam bem, até a Bíblia foi escrita só para falar de coisas destas. Por isso vos digo: com OIs entregues ou não, com directores ou com caps (e, aqui em Sto Onofre, não podemos gastar os confettis todos porque um dia destes comemoraremos também o CAPs LOCK), com fichas de avaliação ou não, só se fossemos uns bimbos é que não nos juntávamos para celebrar a coisa devidamente.
Rui Correia
In http://educar.wordpress.com/2009/05/26/manifesto-conjunto-a-preparacao/#comments
2 comentários:
Parabéns pelo post, principalmente, pelo seu tom. Não vem agora ao caso aquilo que muito nos desuniu nem este amargo de boca que tenho de me ver na linha da frente enquanto outros - infelizmente a maioria - se esconde na trincheiras. Que se lixe. O tom é esse e a próxima manif tem que ser de festa e de união contra o governo mais sem vergonha de que há memória em Portugal.
É isso mesmo Rui. Também eu sou um pacóvio que pensa exactamente o mesmo. Até sábado para ti e para a classe docente. Adeus e vai-te embora ao Sócrates e à tríade do ME.
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