Os exames, reflexo fiel do país: neocolonial, atávico, mesquinho, autoritário
Os exames, o seu conteúdo, a sua forma, as opções ideológicas implícitas, são um espelho desta sociedade doente de autoritarismo, que muitos docentes aceitam sem questionar.
Mas não seria lógico que pusessem em causa esta mecânica absurda, que ano após ano, vai condicionando de forma autoritária a sua leccionação, a sua pedagogia?
Os exames nacionais são um constrangimento pedagógico por tudo aquilo que implicam. Os correctores são destituídos de qualquer capacidade de influir na estrutura e conteúdo dos mesmos. Têm de aplicar mecanicamente grelhas de correcção seguindo critérios traçados por outros.
A liberdade de ensinar, que deveria estar no cerne do acto pedagógico, é completamente anulada.
«O que sai no exame» é aquilo que importa ensinar, os que redigem os exames, mais ainda do que os que fabricam os próprios programas é que decidem afinal de contas, o que interessa ensinar e como. Isto é pedagogia? Isto é um sistema adaptado ao século XXI?
De tão habituados que estão à referida rotina dos exames, os professores vão-se conformando aos sucessivos absurdos, fingindo que acreditam que são um mecanismo válido, quando não o supra-sumo, na avaliação dos conhecimentos dos seus alunos.
No próprio detalhe, os exames são um reflexo da mediocridade que se apropriou deste país. Todos os anos, recorrentemente, há denúncias de erros, gralhas, nas provas. Porquê?
A razão fundamental pela qual os exames são medíocres e não são sequer revistos com um mínimo de seriedade é que existe uma tradição de secretismo absurda e atávica, como muito do que existe na administração central do monstro chamado ME.
Temos de desmascarar a tradição de secretismo absurda, porque... parte do princípio indefensável de que os membros redactores das provas são corruptíveis, influenciáveis, etc... e que a maneira de evitar isso seria manter o seu anonimato. É absurdo porque então porque razão o mesmo critério (de anonimato) não se aplica a juízes e outros magistrados? O critério do secretismo permite o tráfico de influências dentro do ministério, permite que certas pessoas tenham um cargo de fazedores de provas que lhes dá um estatuto como que de «peritos» intocáveis e inamovíveis. Ou seja, dá-lhes privilégios e exime-os de dar a cara E DE RESPONDER por provas mal concebidas, mal estruturadas, com erros científicos clamorosos (muito pior que simples gralhas!)
Manuel Baptista
das cartas
Há 11 horas
Sem comentários:
Enviar um comentário