20090716

O estranho caso do Sr. Aníbal e da coação subliminar de Liberdade de Expressão


Imagem do KAOS

Sou apaixonado pela Arqueologia e pelo "ir às fontes". Não era este o texto que quereria ter escrito hoje, mas nem sempre fazemos o que queremos: até o Livre Arbítrio entrou na cíclica da erosão da Crise... Acontece que, ao escavar na dita cuja, vemos desfilar nomes atrás de nomes, até àquele momento dramático em que, depois do 25 de Abril, a adesão ao Espaço Europeu se revelou uma rotura de paradigma.

Pelo lado idealista, enfim, digamos faz de conta que sim, tivémos Mário Soares, que nele apostou; pelo lado retrógado e renitente, a coisa fez-se pela mão de Cavaco Silva, uma das mais desastrosas opções da nossa contemporaneidade. Cavaco Silva, para qualquer arqueólogo de Crises, é o Pai de Todas as Crises, o homem que, pela prática e usucapião, ensinou ao comum dos Portugueses que os Fundos Estruturais não eram para reestruturar o País, mas sim para iniciar mais um daqueles ciclos que, idiosincraticamente, entendemos como do "dolce fare niente": assim foi com o Açúcar, com as Especiarias, com o Ouro e as Pedras Preciosas do Brasil, o Preto, e, depois..., depois... houve um mal entendido, que fez crer que os Fundos Comunitários eram apenas mais um pretexto para estarmos a viver, como sempre, pendurados em qualquer coisa.

Cada Português, por mais estúpido e disforme que seja, tem sempre dentro de si um pequeno cristiano ronaldo, que apenas aguarda plateia e estrelato. Somos os melhores do Mundo, e, como no tempo de Salazar, mesmo quando perdemos, incarnamos sempre um triunfo moral. Não prestamos, e somos um sintoma da vaidade serôdia da Cauda da Europa, com uns quantos velhos do restelo a permanentemente alertar para o mal estar da coisa. Não interessa, porque estamos sempre no faz de conta, o nosso pequeno "Neverland", onde o "never end" jamais chegará. Para alguns, não passamos do território do Rais' te Partam; para outros, somos a zona endógena da rã que queria ser boi. Em 2009, já nem conseguimos ser rã, nem boi, pelo que entramos na lógica autista do normativismo e da correção pública da miséria interior. Cavaco Silva, um homem que está neste estado, mas que continuamos a fingir que não está, é um saloio que atingiu o Topo da Base, chegar a Presidente da República, o suprasumo das suas aspirações. Custou-lhe muito, uma espera prolongada, humilhações públicas, desmaios, e aquelas mãos permanentemente transpiradas, do único político que tinha tanto medo do Povo que se fazia deslocar numa viatura blindada. Nem o Maior Português de Sempre incorreu nesse ridículo, e não esqueço aquela mãozinha assustada, que entreabriu a "marquise", na nefasta noite da eleição: nessa noite, sem nos darmos conta, recuámos 50 anos no tempo, uma espécie de Polanski, do "Por favor não me mordam o pescoço". Os Portugueses, atulhados de cristianos ronaldos, de Ligas, de santas com cara de saloia e ininterruptos disparates televisivos, não perceberam a coisa: ao chegar ao topo da sua base, o Homem de Poço de Boliqueime tinha-nos colocado os olhos à altura da Dª. Maria, do Salazar, quando lhe engraxava as botas com as próprias "culottes" passajadas. Não é por acaso que temos outra Maria em Belém, tão de vistas largas como a anterior. Somos um país de saloios, e nada nos espanta ter um saloio como Presidente, com uma bandeira de "crochet" pendurada no jardim. Dizem as boas almas que era uma obra de arte da Joana Vasconcelos, pois, talvez, mas, para mim, até a terem tirado, era uma bandeira de croché, que incarnava, desde a epígrafe ao posfácio, uma maneira aldeã e pétrea de encarar o Mundo.

Os saloios são sempre os piores: quando vêm para a cidade, não vêm para metamorfosear a sua saloice na dinâmica do urbano: fazem sempre uma pausa, e tentam travar o ritmo citadino, de modo a que se assemelhe, o mais possível, à sua aldeia. Para mim, urbano de várias gerações, sempre que apanho um destes, saco do revólver, e disparo até ele desistir, ou cair. As minhas armas são a Escrita.

Ao promulgar -- e chama-nos para isso a atenção "O Cacimbo" -- o novo Estatuto da Carreira Militar, o Homem da Bomba, que só sonha, maneirinha e mesquinhamente com a sua reeleição, reintroduziu coisas do tempo da Outra Senhora. O militar, mesmo na reserva, fica sob impossibilidade de emitir opiniões. O Sr. Aníbal, que vive fora da Blogosfera, e numa Atmosfera plena de Bolor, não percebe que isto está ao nível dos saiotes de Teherão, das burkas de Kandahar e dos olhinhos rasgados do Exemplo Chinês. O respeitinho é muito bom, e os Portugueses profundos, nos quais se insere o casal de Boliqueime, têm plena consciência de que os momentos corruptos dos Regimes já têm caído na rua, pela mão dos militares. Como diz a Bíblia, assim sempre foi e assim sempre será. Calem-lhes, pois, as bocas...



(Hexagrama do escândalo, no "Aventar", no "Arrebenta-SOL", no "A Sinistra Ministra", no "Democracia em Portugal", no "KLANDESTINO", e em "The Braganza Mothers")

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