Produto KAOS
Termina a Campanha Eleitoral que um qualquer analista previu viria a ser uma das mais sórdidas de sempre. Errou às centésimas, pelo que suponho que tenha um pequeno constâncio dentro de si. A preceito, poderíamos esmerar-nos e ter conseguido uma coisa ainda mais baixa, mas fica para a próxima, olha, por exemplo, quando tivermos no terreno o alzheimerizado Aníbal a bater-se com o Jaime Gama, o tal das fotos do "Casa Pia" e o Garrafão de Argel. Aí, poderemos insultar e soltar a franga do íntimo Gil Vicente que o "Intelligent Design" colocou no nosso coração.
Para fechar, com chave de ouro, as Autárquicas, escolho o evento dos cartazes para a Assembleia Municipal e Juntas de Freguesia de Almada terem hoje acordado com a palavra "PEDÓFILO" bem pichada em cima.
Sobre quem o fez, apenas poderemos afirmar ter-se tratado de uma ação minuciosa, cautelosa e concertada. Concertada, porque ocorreu em simultaneidade; minuciosa, porque escolheu os cartazes com maior visibilidade; cautelosa, porque parecendo que o cavalheiro é exímio em processos e em pedidos de indemnização, a acusação foi evitada em todos os lugares em que aparecesse a cara de nádega do menino, e limitou-se a uma estigmatização difusa, por tudo o que era o símbolo do PS.
Duas coisas sei, a primeira, que não tive nada a ver com a iniciativa, embora a tenha adorado, quando me a relataram por telefone; a segunda, que é um problema premente do PS: tivesse-se livrado a tempo dessa gangrena, como de tantas outras, em vez de se lhes colar, como se de teimosias de coincineração do tempo do tarado do Sócrates se tratasse, e não estaria no lastimoso estado de descrédito nacional em que está.
Sobre Paulo Pedroso, acho que tudo o que epidérmico já foi escrito. Poucas pessoas, neste país, tiveram a infelicidade, repito, a infelicidade, de contatar com a derme do assunto, e, menos ainda, de saber o esqueleto ósseo que lhe subjazia. O comum dos mortais portugueses, para além do primarismo dos "Hammerskins", que não deixam de representar uma forma atipicamente diferenciada de brutal oposição ao Sistema, guarda, todavia, um fundo de rancor e de ressentimento, típico das massas que, embora incultas, intuem que foram descaradamente enganadas, e sentem que a Lei Portuguesa é um conjunto de estados de alma, que umas vezes contempla uns com almofadas e outras, com camas de faquir. Paulo Pedroso é daqueles que anda de cuzinho amparado, e, pese-se ainda uma improbabilíssima "inocência", há, na população e na voz do senso comum uma sensação de impunidade e de indecência, que acompanharam este penoso rastejar pelo cenário político. A seu modo, como Soares o definiria, é uma manifestação sucedânea do "direito à indignação", e as populações da Margem Sul sentem como um ultraje que um indivíduo marcado por dedadas indeléveis se atreva a aparecer, na figura do impoluto, do ingénuo, e reintegrar o Palco Político, como se não tivesse havido História.
Houve História e muita, e, tentando ser majestático e apartidário, num assunto que me é particularmente sensível -- o "Casa Pia" virou-me, para sempre, a inocência, e destruiu-me a serenidade, enquanto cidadão -- nem supondo a presunção da inocência, nós deveríamos ser sujeitos à Erosão da Indecência: Paulo Pedroso, talvez o caso mais carismático do que vai ser um vexame eleitoral sem precendentes. Outros haverá, com outros teores e calibres, e muitas, mas mesmo muitos, provas da estupidez de um povo atavicamente tacanho, vingativo, e autocomplacente, na sua miséria cultural e cívica.
Pela minha parte, espero ansiosamente por domingo, para poder entrar em período de reflexão e descanso, voltar para Capreia, de onde nunca deveria ter saído, entregar-me à minha natureza sibarítica, de gostos minuciosos e, por vezes, caros, e deixar esta macacada entregue a si mesma. Ah, sim, é claro que, depois de Manuel Alegre, o Garrafão de Anadia, ter chamado a Santana Lopes "malabarista solitário", com mais gosto irei votar nele, mas numa só de avacalhar mesmo a coisa. Gosto de malabaristas solitários: com ele, já seremos dois.
(Bocejado no "Aventar", no "Arrebenta-SOL", no "A Sinistra Ministra Isabel Alçada", no "Democracia em Portugal", no "Klandestino" e em "The Braganza Mothers", cada vez mais sólido e lido)
Sem comentários:
Enviar um comentário