20071014

Msg Para Dia 18

@ No âmbito da preparação da manifestação nacional do próximo dia 18 de Outubro, a CGTP-IN foi contactada (ou visitada), formal ou informalmente, por agentes da PSP, fardados ou "descaracterizados"?

Não foi nem é normal ser visitada por tais entidades. A CGTP-IN é reconhecidamente uma instituição que cuida com grande pormenor e rigor as suas iniciativas, concentrações e manifestações. O que é normal fazer-se é, primeiro, uma comunicação nos termos da lei, segundo, no terreno, prestarmos toda a informação e colaboração necessárias aos agentes da PSP, para que as iniciativas decorram com normalidade e civismo, o que sempre aconteceu. No que se refere a 18 de Outubro próximo, as formalidades estão cumpridas. As razões de ordem nacional e europeia que nos levam a fazer esta manifestação, “por uma Europa Social e Emprego com Direitos” são fortes. Os trabalhadores portugueses, mais jovens e mais velhos, têm direito a viver melhor e o País a desenvolver-se. Estamos a fazer um grande esforço de esclarecimento e de mobilização. Vamos ter uma grande manifestação.

@ Acha, sinceramente, que o Governo "amuado", conforme uma expressão por si usada, "ouvirá" os manifestantes?

Em regra, os governos, por muito que façam o discurso da negação do impacto dos protestos ou reivindicações, não deixam de os ter em conta. Mas, claro, que a táctica do amuo e a persistência na recusa de ouvir os trabalhadores constituem factores que agravam a incapacidade de audição do Governo.

@ Como conciliar a "luta de classes", com o "diálogo social" proposto pelo actual Governo de "esquerda moderna"?

Esta “esquerda moderna” mais parece de velha direita e esta, como sabemos, sempre negou a luta de classes, apesar de a alimentar todos os dias. Vivemos um tempo em que toda a verdadeira esquerda e os trabalhadores em particular, necessitam de dar vida aos conflitos decorrentes da luta de classes, sem abdicarem da formulação e defesa de mudanças quantitativas no actual sistema e contexto da sociedade, dando exercício pleno à conquista institucional de os sindicatos serem uma organização (“parceiro social”) reconhecida e indispensável em democracia.

@ Que balanço faz do actual estado da "consciência de classe" dos trabalhadores portugueses?

Face a mudanças e contradições que marcam a sociedade actual, aos trabalhadores portugueses e aos trabalhadores em geral colocam-se grandes desafios para se situarem individualmente na sociedade, para interpretarem o seu lugar de classe e para construírem acção colectiva. Esses desafios implicam também vencer o individualismo institucionalizado que impera, combater as manipulações do consumismo exacerbado, construir solidariedades e fazer frente às chantagens inerentes à nova divisão social do trabalho e aos quadros dominantes das relações laborais, que estão carregados de precariedades e inseguranças.

@ No "Mundo Global", como analisa o "Milagre Chinês" (tantas vezes enaltecido por empresários e economistas), designadamente à luz da asfixia imposta aos sindicatos naquele país?

Em primeiro lugar, tenhamos presente que a China é o mais importante dos chamados países emergentes, no contexto do actual processo de globalização económica. Em segundo lugar, a China vem dando sinais de usar com eficácia todos os seus trunfos. Em terceiro lugar, não se aceita certas dimensões de exploração que se processam na China, desde logo pelas multinacionais. Mas esta constatação não pode servir de pretexto para o capital na Europa impor a eliminação de direitos laborais e sociais, numa espécie de harmonização no retrocesso. A situação dos trabalhadores chineses continuará, no geral, a melhorar progressivamente e não se julgue que na China não há protestos laborais: eles são aos milhares.

@ É inegavelmente sensível a perda de influência dos sindicatos na sociedade portuguesa. Porquê? Que fazer?

Não são os sindicatos especificamente que estão mal. Os sindicatos deparam-se com graves problemas, alguns até são de foro interno. As questões de fundo têm origem no desequilíbrio das relações de força entre capital e trabalho, em desfavor deste, nas condições de estruturação, organização e formas de prestação de trabalho; nas precariedades e inseguranças que marcam a sociedade e em particular o mundo do trabalho e nas dificuldades de reconstrução e construção de novas solidariedades, entre gerações, entre empregados e desempregados, entre homens e mulheres, entre mais qualificados e menos qualificados, etc.
Entretanto, não é possível resolver estes problemas sem mudanças mais profundas no plano social e em particular no plano económico/financeiro e no plano político geral.

O trabalho continua aí, com um lugar central na sociedade. A organização e a acção dos trabalhadores (os sindicatos), com as reestruturações e revitalizações possíveis em cada momento, têm que continuar, para responder àqueles problemas, para construírem solidariedades necessárias, para afirmarem direitos individuais e colectivos dos trabalhadores, a partir das condições concretas em que se encontram.

@ Já sabemos que o seu futuro estará, em parte, dependente do próximo Congresso da CGTP-IN. Não lhe pergunto, por isso, se fica ou sai. No entanto, arrisco: depois do sindicalismo, o quê?

Está dependente o meu futuro como sindicalista exactamente nos mesmo termos em que está dependente o futuro de todos os dirigentes da Central: a duração do mandato é igual para todos. Neste momento, não imagino quando será o fim da minha actividade como dirigente sindical. As causas dos trabalhadores, procurarei tê-las sempre presentes. Desejo ter saúde e força para trabalhar ainda muitos anos. O que vou fazer não sei. É aconselhável não negar nenhuma hipótese, que tenha coerência, o que significa que tenho o direito e o dever de utilizar as capacidades e conhecimentos que fui adquirindo e que os outros me possam reconhecer, pois como se sabe não basta pensarmos que somos capazes.

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