20071109

O Antero que me perdoe ...

  • 3. antero | Novembro 8, 2007 at 11:12 pm

    Caro(a) MF:
    Bom, vou tentar explicar essa coisa tão difícil de entender. O primeiro grande problema é partir do pressuposto errado de que as faltas servem para reprovar alunos. A falta deve ser um elemento regulador de atitudes, e só. Um pouco como a necessidade da existência de multas para comportamentos de risco na condução de um automóvel. Não basta, como sabemos, alertar as consciências. A multa não serve só para chatear ou engordar os cofres do estado.
    Comparar alunos universitários com alunos do ensino básico é, no mínimo, estranho.
    Os alunos universitários já devem ter autonomia suficiente para organizar o seu plano de estudos e ter plena consciência do resultados dos seus actos. Os alunos do ensino básico não têm essa autonomia, mais que não seja pela sua idade. Qualquer adolescente encontra facilmente coisas mais interessantes para passar o tempo do que ir às aulas, o que é perfeitamente normal, convenhamos. Por isso, têm que ter regras que os orientem na sua educação. Eles próprios o exigem frequentemente. Quem é professor ou pai sabe do que estou a falar. E não estou a ser paternalista!
    Já vi demasiados alunos reprovarem por laxismo próprio, dos encarregados de educação e até de professores. Facilitar o sistema de faltas só agravaria o problema (que é, volto a dizer, o insucesso dos alunos e não o retirar a “arma” para reprovar). Porque, caro(a) MF, não me lembro de nenhum aluno que tenha feito com sucesso as provas de equivalência à frequência do 9º ano. Mas parece que quem nos governa também chegou a esta conclusão e abandonou a ideia de acabar com o sistema de faltas justificadas e injustificadas.
    Devo acrescentar que concordo com a ideia de aulas suplementares e avaliações extraordinárias para alunos que, comprovadamente, tenham tido a necessidade de faltar às aulas. Penso que a maioria dos professores concordará comigo. Não temos medo, como muitos nos acusam, de ter mais trabalho.
    Mas trabalhar para o boneco, não nos peçam mais, por favor. É que a maioria dos alunos não tem autonomia para organizar o estudo nem familias que os possam orientar. E, acredite MF, muitos se irão apresentar a exame sem saberem rigorosamente nada e esperançados num milagre. Não me parece ser esse o caminho para o sucesso dos nossos jovens. É estar a enganá-los.
    Como dizia o nosso secretário de estado: Queremos que os alunos vão às aulas e aprendam.
    Até porque, e aqui haveria uma perversão do sistema, seria muito melhor para os professores que as faltas não tivessem qualquer importância.
    Os maus alunos não iriam às aulas, que seriam muito melhores e mais produtivas. Quando esses alunos fossem a exame, como tinham faltado às aulas (e às tais horas de compensação. Não vejo porque a sua atitude seria diferente) e não tendo capacidade para organizar sózinhos o estudo, reprovariam ano após ano. Será que ficávamos todos mais felizes? Não me parece que esses jovens o fossem, passados uns anos.
    Depois, há a questão de medidas que são feitas para aparecerem uns números bonitos nas estatísticas… mas isso é uma outra longa história.
    Acatarei de bom grado todas as medidas que, comprovadamente, visem melhorar a aprendizagem e o sucesso dos alunos.
    E pronto, MF, termino aqui esta pequena introdução ao que pode ser o problema das faltas. Acrescento ainda um pedido: Não concorde com a “Vozinha”. Eu ficaria muito triste.

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