20080320

A ler ...

Mário Jorge Ferreira disse...

Caros colegas,muito nos lamentamos e pouco agimos. Tenho dois filhos (2 e 8 anos) que são privados da minha pessoa porque me encontro a trabalhar a 240 Km de casa (Muitos há como eu, ou pior que eu. Depois de 12 anos a trabalhar em fábricas, consegui finalmente exercer a profissão que sonhava desde miúdo. Para conseguir o curso, trabalhei durante 5 anos (um de preparação para PGA e específicas e 4 de Licenciatura) no turno da noite e, como se não bastasse, após estar cerca de 10 horas na escola, ainda trabalhava 2 horitas para pagar a gasolina. Por isto, se alguém se sente com direito a estar nesta profissão, sou eu (compreendendo que existem muitos milhares de colegas com o mesmo direito)e por essa mesma razão e ainda, por me sentir um profissional da educação (no sentido lato da pedagogia), não aceito que ninguém me acuse de mau profissional. Manterei a minha postura correcta no que concerne ao caminho para o qual me propus como educador. Não tenho medo de avaliações (apenas me constrange e revoltam as avaliações tendenciosas economicistas e politizadas), por isso mesmo manterei a minha conduta. Se tiver que passar, passo; se necessário for, reprovo. Tenho uma turma em que antevejo 2 ou 3 reprovações à minha cadeira. Mas uma outra, antevejo entre 11 a 17 reprovações (que no rigor "papista" seriam 17 garantidas). Para a turma com mais dificuldades, vou para a escola dar apoio aos alunos mais fracos na sala de estudo, levo-os para o laboratório de matemática, já fiz uma reunião com os pais (com autorização do DT) para definirmos estratégias que promovessem o sucesso. Resultado?... tudo na mesma. Certamente que (aproveitando o ítem da avaliação que refere a inovação na implementação de novas estratégias) começarei a fazer o pino. Este é um pequeno exemplo do que se passa. Por este mesmo motivo, se tiver que reprovar os 17 alunos, reprovo-os de consciência tranquila. Não me venham com demagogias e invenção de estados de espírito e problemas familiares, económicos, sociais, etc., desculpabilizantes para os alunos e culpabilizantes para o professor. O meu filho só me vê ao fim de semana e, como é natural (porque não é diferente das outras crianças por ser filho de professor), tentou aproveitar-se da situação, criando chantagens emocionais para me manipular e à mãe. A conversa com ele, foi curta, dura e objectiva: "aqui quem faz as regras sou eu e, lá por eu estar fora, não penses que as regras mudam ou que são facilitadas. Se não cumpres a tua parte, serás castigado. E acabou a conversa! Porta-te bem e todos estaremos felizes." Não é fácil dizer isto ao filho que só vemos ao fim de semana. Mas o cumprimento das regras deve ser efectivo. O meu filho já percebeu que ser exigente e duro quando é necessário não implica deixar de gostar dele.
Por isto mesmo colegas, usem do vosso sentido de dever perante a a palavra professor «aquele que anuncia, ensina ou cultiva uma arte» (origem latina)e sejam o mais justos e responsáveis possível aquando da avaliação do "aluno" (latim - «aquele que é alimentado ao peito, criança, discípulo e educando»). Não sejamos reféns da demagógica prosa do "sentido de responsabilidade dos nossos professores que no sentido da responsabilidade «baixarão a cabeça e (re)colocarão a canga» para não prejudicar os milhares de jovens... etc., etc."
Um bem haja para todos e, já agora, continuem a tirar os telemóveis ou convidem a sair da sala os alunos que não cumpram, pois que eu saiba (ao contrário do que referiu a psicóloca há pouco no Telejornal da SIC), o telemóvel não é um prolongamento do corpo... só se for da infeliz necessidade de auto-afirmação (pelo menos faz menos mal que o tabaco).
Peço desculpa pela mensagem longa.

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