20080309

Ser professor hoje é continuar a luta por uma educação pública, gratuita, universal e de qualidade

Ser professor hoje é lutar contra o obscurantismo cultural que vai invadindo as escolas, o amorfismo acrítico e o conformismo acéfalo que se vai instalando nos espíritos, induzido pelo poder político e económico, pelos mass media e por instintos primários de sobrevivência (ou subsistência) social.

Ser professor hoje é lutar contra o processo de degradação da escola pública que os sucessivos governos têm promovido transformando-a no depósito da mão-de-obra barata para ser domesticada.

Ser professor hoje é protestar e ensinar a protestar contra as políticas governamentais que desmantelam os serviços públicos e degradam a qualidade de vida em sociedade em favor dos interesses empresariais do lucro fácil e rápido

Ser professor hoje é vir pr’á rua dizer NÃO aos sinistros personagens que povoam o ministério da (des)educação

Ser professor hoje é lutar contra a exclusão escolar e a escola falsamente inclusiva que vende gato por lebre.

Ser professor hoje é lutar pela real democratização do ensino através de uma educação de qualidade acessível a todos, e não pela simples massificação das escolas públicas.


Ser professor hoje é protestar contra as políticas mercantilistas que instrumentalizam a educação aos seus interesses e não a favor do interesse geral da sociedade e dos próprios indivíduos

Ser professor hoje é contestar a mercantilização e a transformação da educação de qualidade num negócio de cifrões só acessível às famílias ricas


Ser professor hoje é ser capaz de educar para o activismo cívico e interveniente, para a construção de espíritos livres, críticos e insubmissos

Ser professor hoje é ser um indivíduo livre, crítico e empenhado pela justiça, pela liberdade e pela solidariedade entre todos os seres humanos.

7 comentários:

Anónimo disse...

Em primeiro lugar quero dizer que não sou apoiante do partido que está no poder, mas tão só uma pessoa de esquerda, e por isso, acredito nos seus princípios fundamentais. No entanto, como as sociedades evoluem, as políticas também evoluem e são o reflexo das mudanças sociais.
É por isso para mim absurdo ver os sindicatos de professores usarem as mesmas exigências e os mesmos chavões que usavam à 20, 10, 5 anos atrás. Dizer que a escola não é uma empresa é no mínimo redutor. Uma vez que é estrutura organizada e com objectivos bem definidos, que embora não seja maximizar lucro e proveitos é formar seres humanos. E isto pode e deve ser quantificável, e os professores podem e devem ser avaliados mediante a sua capacidade de fazer a sua parte neste imenso e complexo processo que é preparar um jovem para os desafios que se adivinham depois dos 18 anos.
Ser professor não é protestar e ensinar a protestar, ser professor deve ser no mínimo ensinar a pensar.
Quando olho para o meu tempo de estudante compreendo o porquê da necessidade das reformas que a ministra quer pôr em prática. Porque os únicos professores que foram importantes para a minha formação foram os que tinham um espírito altruista, que faziam mais do que lhes competia (e esse esforço era depois visivel nos resultados e na relação aluno/professor) e nem eram os que progrediam mais facilmente na carreira.
Encontrar modelos que da forma mais imparcial possivel classifiquem o sucesso dos esforços de um professor é possivel e recomendável, e só quem não sabe os desenvolvimentos nas ciências matemáticas e de gestão pode continuar agarrado ao conceito de que quantificar é reduzir a números uma performance.
Quantificar é a única forma de primeiro identificar a fonte dos problemas no ensino público e segundo de encontrar a melhor forma de os resolver. É encontrar relações causais entre insucesso escolar e as mais diversas variáveis que estão correlacionadas com o insucesso.
Seria necessário deitar para o lixo todo o esforço que se tem vindo a pôr em micro-economia, em gestão de qualidade total, dizendo que estas teorias só se aplicam a meios industriais e não a serviços. O que também está errado, basta procurar no sciencedirect.com ou ler o freaknomics.
Compreendo que para muitos professores conhecimentos nesta área vá para além das suas necessidades ou interesses. Mas pôr em causa o conhecimento de uma profissional com um forte background técnico para desenvolver esses modelos e reformar o ensino público de forma a torná-lo óptimo é como permitir a um jogador de futebol indicar os parâmetros de avaliação para um teste de Filosofia.
E concordo plenamente com a ministra quando diz que não é possível construir com os sindicatos o melhor sistema de ensino público, porque claramente os objectivos não sãos os mesmos, e as ferramentas que as duas partes querem utilizar para atingir esse fim não são as mesmas. E eu sinceramente acredito mais na metodologia utilizada pela ministra, apontada pelos professores como tecnocrática e redutora, porque venho do mesmo meio académico e sei para o que é que ele nos prepara.
Que os professores não queiram sair da sua zona de conforto é uma coisa, que sejam um entrave à mudança e à melhoria do ensino por medo de perderem regalias é outra. Todas as profissões estão continuamente sujeitas a maiores e mais variadas formas de pressão e os bons profissionais têm que se exceder todos os dias para provar que são a pessoa correcta para o que estão a fazer, e são sujeitos a avaliações contínuas. As pressões das sociedades modernas não afectam só os professores. É essa visão global que acho que falta a quem se manifesta e esse umbiguismo é o que de facto está a degradar o sistema de ensino público português.

Maria Lascas
(licenciada em Engenharia Aeroespacial pelo IST, estudante de Mestrado em Gestão Aeroespacial e Operações na TUDelft, Holanda)

Anónimo disse...

Minha cara Maria Lascas

A sua abordagem é paradigmática de uma forma de abordar a escola segundo a óptica de modelos e esquemas teóricos pré-definidos.

Outra coisa é ir para o terreno e sem temor ver em que se tornaram as nossas escolas (o que não é exclusivo de Portugal).

Escolas e empresas são coisas completamente diferentes. Até numa perspectiva jurídica, quanto mais organizacional e relacional.

Faça-me um favor:
estude e pense mais no que anda a aprender, porque como o saudoso professor Abel Salazar disse certa vez: «um médico que só perceba de medicina, nem de medicina sabe»

João Esteves disse...

Empresa que, de um modo ou de outro, não procura o lucro, só é empresa de nome. Deixemo-nos de farsas. Percebo que, com a fúria neoliberal que por aí anda, se queira chamar empresa a tudo, mas a Escola não é redutivel às relações laborais e organizacionais de uma empresa. É muito mais do que isso. E quem não percebe isto, nada sabe de Educação, no sentido autêntico do termo, e não no sentido formal e burocratizado, tão típico do nosso ME.

Anónimo disse...

Cuidado!!!
Ir para greves não me parece o melhor caminho, pelo menos para já!
Muitos professores não lutarão dessa forma pelos mais variados motivos tais como:
o seu ordenado é manifestamente curto face às despesas;
não concordam com greves e com a imagem que estas dão na opinião pública;
...

Anónimo disse...

Caro Anónimo,

De citações está o mundo cheio, eu também lhe podia deixar aqui algumas de indivíduos que mudaram a face da gestão de organizações, como Jack Welsh ou Warren Buffett, mas não preciso disso para fortalecer minha posição de que modelos de avaliação quantitativos são necessários para avaliar os professores.
Se me disser que estes modelos não se aplicam porque os professores gozam de um estatuto especial na sociedade devido ao seu forte poder sindical, como os médicos de uma outra forma, de facto tem razão.
Conheço muitas situações de explicações ilegais fonte de rendimento que eu nunca posso ambicionar ter, ou favorecimento de alunos e outras manobras ilegais. Este é o espelho que eu tenho dos meus 12 anos de ensino público. A excepção são os professores que dignificam a sua classe.
Só quando ingressei no ensino superior no IST vi a falta de qualidade que existe no ensino secundário. No IST os professores são sujeitos a avaliações até por parte dos alunos e têm de justificar os seus resultados. Isto para mim é essencial.
Dizer que aplicar modelos teóricos às escolas é parte da fúria neoliberal é de quem não sabe olhar à volta e ver o que se passa no mundo, para além da escola. Não sei a visão obtusa e redutora é minha, que estive 12 anos no ensino público e agora tenho outras experiências, nomeadamente num ambiente empresarial, ou se é da maioria dos professores que nunca saíram da escola.
Isso é tão só e apenas uma última tentativa de justificar o poder em excesso que os professores ainda têm.

João Esteves disse...

Não se trata de ignorar que vivemos numa economia de mercado e que as empresas são o motor do desenvolvimento económico. O que penso é que a Escola tem uma natureza essencialmente diferente da de uma empresa, porque lida, não com "produtos" susceptíveis de serem vendidos e, assim, obter uma mais-valia, mas sim com pessoas, ideias, cultura, ciência, artes, afectos, aspectos que têm um carácter universal e que não se podem sujeitar a uma lógica meramente economicista. Tem como objectivo formar indivíduos com valores de respeito pela diferença e de solidariedade, muitas vezes aliados da economia de mercado que se pauta por uma concorrência desenfreada. Indivíduos capazes de reflectir e criar, que sejam cidadãos responsáveis e livres. E, do meu ponto de vista, estes objectivos não se coadunam com uma organização empresarial da Escola.
Infelizmente, acho que a Escola tem falhado alguns destes objectivos, na minha opinião devido à visão deturpada do ME e sucessivos ministros e penso que o caminho que está a ser seguido só aprofunda esse fracasso.
Não colhe o argumento de que, porque há gente desonesta, então todos devem ser tratados como desonestos.
Quanto ao poder dos Professores, esse advém da natureza da sua profissão e não de um qualquer hipotético poder sindical.

João Esteves disse...

onde se lê "...aliados da economia de mercado..." deve ler-se "...alheados da economia de mercado..."

obviamente!

:)