20080516

Azsrael

Dedicado ao João Gonçalves, por... acaso :-)
Há pessoas que têm profundas desilusões, quando descobrem que o Pai Natal não existe. Eu caí no mais profundo sonho, quando descobri que era pagão. Tenho pelos monoteísmos o profundo amor do raio-que-os-parta, quer sejam os de Jeová, o Senhor da Guerra -- podia ser da Paz, sei lá, do Banco Alimentar contra a Fome -- mas não, tinha de ser, mesmo, o Senhor da Guerra, de maneira que apanhou logo com um traço vermelho por cima. Do deserto, só gosto realmente das auroras, das paisagens desoladas, dos espantosos oásis, onde as rãs saúdam Helius, pela manhã, portanto, nada de misturas de pedras negras, haréns de mulheres feias enroladas em sarapilheiras pretas e mãos cortadas; quanto ao Cristianismo, mantemos uma relação de vizinhança do bom-dia, boa-tarde, mas, às vezes, fico a olhar para trás, e a pensar como uma santa, com cara de saloia, ainda pode mover multidões, e como um tipo, que até devia ser simpático, se sujeitou, sem ter telefonado para a SkyNews, a Judiciária, o INEM, sei lá, a deixar-se ficar pendurado três dias, numa posição incómoda, sem nunca tomar banho -- e esse é o meu pior argumento contra o Cristianismo: uma duvidosa falta de higiene de base... -- e ainda não houve nenhum teólogo que me conseguisse explicar esse contra-senso.
Em contrapartida, gosto dos deuses locais, de chegar perto das fontes e imediatamente identificar a presença das divindades menores que por lá pairam, de sentir Daphne, sempre que o cheiro da aurora se levanta pelas planícies, e as divindades ctónicas, silenciosas e cavas, que nos acompanham nos tempos das Sombras e da Necessidade Sombria.
Roma era um Estado Civilizado, enfim, no sentido moderno do termo, em que achava que tinha o direito de deitar a mão a tudo o que lhe apetecia, para manter no ócio um batalhão de habitantes, numa cidade, um pouco insalubre, que nem vista para o mar tinha. É por isso que eu sou, a ser, um pagão Alexandrino, a ir, à noite, visitar uns cultos de Ísis, farejar um pouco de Mitra, e ficar na expectativa de que Osíris se lembrasse de mim, na horinha da ressureição... não, na verdade, nem me interessa ressureição: gosto do Paganismo, porque me diz "usa e abusa", enquanto vivo, que as quotas de acesso ao "Au-Delà" são restritas, e com a carga de hedonismo, de apoteose dos sentidos, de embriaguês das brisas, das sinfonias dos cheiros, acho que nenhuma ressureição teria qulaquer de interessante para me dar. Imaginem o que era renascer, com a Manuela Ferreira Leite a governar...
Portanto,
Carpe Diem et Carpe Noctem.
Vespasiano e Tito eram dois tipos simpáticos: aparentemente modernos, tinham uma daquelas relações pederastas, com uns anos de desiquilíbrio, escondida como "pai" e "filho" (hoje em dia, diz-se o meu "padrinho"...), que lhes dava muito jeito, como ainda hoje dá.
Roma foi uma hábil percursora de todo o maquiavelismo a vir: preferia fomentar discórdias entre estados satélites, e recolhê-los depois, quando depauperados e maduros. Estava a tentar passar, por alto, actos radicais de corte civilizacional, e só me vêm à cabeça dois, Cartago -- um dos maiores erros da História, já que a Baía, com o Jebel Bukurnin, lá ao fundo, é um dos mais extraordinários cenários do Mediterrâneo, e a capital do Mundo Antigo deveria ter ficado lá, em vez de num rio atarracado e fedorento -- e o Saque de Jerusalém. Para os Romanos, gente da boa-vida, dos banhos e das orgias sem limites, deve ter sido uma chatice a própria ideia de um Povo Eleito. Eleito era o Cidadão Romano, prorrogativa que Caracala estenderia depois, a todos os pacóvios intra-fronteiriços, já na fase em que o Império ameaçava tornar-se numa enorme pocilga pegajosa e em riscos de soçobrar, e importava pôr toda a gente a pagar imposto.
Ficou-me sempre estranha essa radicalidade de arrasar o Templo, e mandar Jeová às urtigas, embora já o profeta Jesus o tivesse feito antes, de uma forma mais simplória e emocionada, mas, com o correr da História, cada mais compreendo Vespasiano e Tito: aquilo era mesmo uma obcecada chatice, e, como hoje se diz, não havia saco, para gente que não cumpria os serviços mínimos do ócio da Pax Romana. O único dia non perdidi de Tito, deve ter sido aquele em que pôs o Santuário num monte de ruínas, e se pôs a andar, deus me perdoe.
Ao seguimento disso chama-se a Diáspora, e aos restos do Templo, as Twin Towers da altura, o Muro das Lamentações.
Já me cheguei a comover um pedacinho, com ver gente a chorar por aquilo, tantos séculos passados, mas, quando faço o "zoom" e vejo coisas em forma de abutre, a bater com a cabeça nas paredes, só me faz lembrar "ayatolahs" e nojices do género, e prefiro virar as costas, e lamentar, muito mais do que o Templo, o incêndio da Biblioteca de Alexandria, a pilhagem de Cartago, ou as ruínas da sereníssima Palmyra, onde eu viveria para sempre, se o Constâncio me desse, já, a reforma antecipada.
Sobre os Judeus, passaram algumas das maiores pulhices da História, e todas as Nações da Terra deveriam pintar a cara de luto, por todos os crimes, que, num tempo ou noutro, cometeram contra esses nómadas da Emoção, e que tantas cabeças brilhantes deram ao Patrmónio da Aldeia Global. Em suma, para qualquer grande nome da História da Cultura, da Ciência e da Civilização, que você se vire, incorre no risco de encontrar um Judeu.
A Apoteose Negativa foi o Holocausto, coisa com a qual nada tive a ver, e, "vol-de-face", acho que ninguém tem o direito de me continuar a obrigar a pagar, neste início do séc. XXI. Pela primeira vez, tomam as rédeas das Nações, gentes com as mãos totalmente limpas de responsabilidades por atrocidades cometidas por esses regimes vizinhos, de cariz Nazi, Fascista, ou Comunista. Adolph deu o mote, e o gás, e Estaline preparou as frigideiras, tudo muito boa gente, aliás, e só Salazar fechava os olhos, porque era, politicamente, aquilo que o Sócrates pretende ser, em sexo, dar para os dois lados, se bem que a realidade seja que dê só para um, embora na posição do frango assado e do seminarista, as mais próprias para um Primeiro-Ministro que nunca voltará a meter um charuto na boca. É por isso que a hemorroidal, como as doenças do coração e a diabetes lideram as principais causas de morte, no Mundo Barbarizado...
Há 60 Anos, os ressentidos e cheios de remorsos do plantel europeu cometeram um dos mais graves erros do séc. XX: reconstruir o que Vespasiano e Tito tinham resolvido, de uma vez por todas: delenda est Azrael, e o que fizeram foi criar uma boceta de Pandora para as gerações vindouras. Como eu gostaria de ter visto uma Jerusalém Cidade-Estado, governada por um Senado com representatividades teocráticas, no seu lugar de Cidade Santa de todos os monoteísmos que eu odeio, mas que lá estão, e uma Israel, tipo Suíça, entretida com produzir coisas fabulosas, como as japonesas, relógios suíços, e compositores da craveira de Mendelssohn e Mahler. Não, foram logo para a bomba atómica, para os Muros da Vergonha, e para o tratar o vizinho como um capacho, como se a Ampulheta da História nunca tivesse sido invertida, e fosse possível recolocar tudo 700 anos antes da Era Comum, no tempo em que Salomão fazia oralidades com a Rainha do Sabá.
O grave disto tudo é um análogo da frase de Churchill: "A Democracia é o pior dos Sistemas, depois de termos excluído todos os outros".
Todos os dias acordo com vontade de condenar Israel, e logo vejo, ao lado, aquelas ciganas, a ulular, a enfiarem os filhos-bomba na Linha Azul, Colégio Militar-Luz, não... isso é um ciclo vicioso, e, assim, não vamos, nunca iremos lá. A Pena de Talião não serve, e eu odeio os Monoteísmos, e Jeová só me faz lembrar as Testemunhas, uma delas, no Héron-Castilho, com o filho que teve, e que faria dizer a Tito... "Diem Perdidi", e é por isso que eu prefiro voltar às fontes, a Daphne, ao Didimaion, e àquela triste coluna do Templo de Artemísia, em Éfeso, ou aos Xintoístas, para quem toda a Natureza é um símbolo sagrado, e que não espancam crianças palestianas, que têm tanta culpa nessa desculpa esfarrapada do Holocausto, como eu, eu mesmo, euzinho próprio.
Pronto, agora, podem bater-me à vontade.

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