20080622

FP e os "jovens"

Vindo de quem considerou os professores como a causa dos males do ensino, não está mal pensado, não senhora!
Quem sabe não seja um bom exemplo a seguir nas aulas para interagir com os "jovens" e aumentar ainda mais as taxas de sucesso: matemática, história ou qualquer outra "seca" "rappados" e "graffittados"...
Porque isto de se esconder a indigência intelectual com a desculpa de que é para chegar até aos "jovens" já enjoa!!! Arre!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Dias contados Alberto Gonçalvessociólogoalbertog@netcabo.pt

Domingo, 15 de Junho
PESSOAS PEQUENAS
Leio que a Casa Fernando Pessoa comemorou os 120 anos do nascimento de Fernando Pessoa, o que sem dúvida parece adequado. Em seguida, o que parece menos adequado, leio que as comemorações envolveram um concerto de hip hop e uma sessão prática de graffiti alusivos. Admito não ter visto os graffiti nem o concerto. Mas estranho um bocadinho que o maior escritor português do século XX seja evocado através de umas garatujas na parede e da adaptação musical (?) de poemas de Álvaro de Campos por artistas do gabarito de (recorro à notícia) Melo D., Maze, Fuse, Raptor ou Rocky Marsiano. Felizmente, a directora da Casa, Inês Pedrosa, esclarece: a intenção é "atingir os mais jovens". Nada tão claro. O gentil pressuposto em causa é o de que quanto mais jovem mais estúpido. Aparentemente, dadas as vicissitudes do tempo, um petiz não alcança nenhuma obra literária excepto se esta for arrancada com violência do seu habitat natural e degradada até ao limite do reconhecível. Adaptar Pessoa ao jovem médio implica que alguém, acompanhado por uma sanfona electrónica, grite as respectivas palavras para o microfone, de preferência com interjeições à mistura. Para o jovem de compreensão particularmente lenta, os rabiscos na parede bastam. Sendo um pressuposto comum e, ao que se vê, eventualmente justo, não há razão para não alargar o método às celebrações de outros escritores. Imagino que a juventude acedesse com facilidade à lírica camoniana desde que interpretada por mimos e marionetas do Chapitô. E que Eça alargaria o seu público se o elenco de Morangos com Açúcar encenasse uma adaptação dramatúrgica de A Relíquia (sob o título Fónix pá tia, man!). E que um álbum conceptual do Avô Cantigas recuperaria para as gerações vindouras os romances de José Cardoso Pires. Pelas crianças, tudo, ou elas não fossem o melhor do mundo, segundo escreveu Pessoa. Ou Bernardo Soares. Ou Ricardo Reis. Bem, o certo é que ouvi a frase a um rapper de Almada e achei-a o máximo.

3 comentários:

Anónimo disse...

Será impressão nossa ou pretende-se mesmo assegurar o desenvolvimento de várias gerações de ignorantes estereotipados, previsíveis (ainda mais que as actuais)e mal-formadas?

E nós ... tentamos dar pérolas a porcos? É cansaço ... mesmo!

Abraço, ASHA

Buriti disse...

Eu já nem sei o que diga!

Gostava de poder ser uma daquelas personagens do poema de Ricardo Reis, aquelas que, na Pérsia, jogam xadrez e que conseguem manter-se alheias a tudo o que se passa à sua volta porque apenas se concentram no jogo que é o seu, na sua fantasia, porque a realidade é simplesmente horrível.

Mas o que é que se pode fazer, se a estupidez não tem limites?

Anónimo disse...

Que saudades de Pessoa. O que ele diria disto? Provavelmente desenhava a carta astral de Inês Pedrosa por puro divertimento, e mais nada.