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O Objecto
Há que dizer-se das coisas
o somenos que elas são.
Se for um copo é um copo
se for um cão é um cão.
Mas quando o copo se parte
e quando um cão faz ão ão?
Então o copo é um caco
e um cão não passa de um cão.
Quatro cacos são um copo
quatro latidos um cão.
Mas se forem de vidraça
e logo forem janela?
Mas se forem de pirraça
e logo forem cadela?
E se o copo for rachado?
E se o cão não tiver dono?
Não é um copo é um caco
não é um cão é um chato
que nos interrompe o sono.
E se o chato não for chato
e apenas cão sem coleira?
E se o copo for de sopa?
Não é um copo é um prato
não é um cão é literato
que anda sem eira nem beira
e não ganha para a roupa.
E se o prato for de merda
e o literato for da esquerda?
Parte-se o prato que é caco
ata-se o vate que é cão
e escreveremos então
parte prato sape gatovai-te vate foge cão.
Assim se chamam as coisas pelo nome que elas são.
José Carlos Ary dos Santos
2 comentários:
Para quem vier por bem,
entre, está convidado,
Mas, a quem vier por mal,
A porta tem cadeado!
:-)
Este texto, falado pelo autor ainda é mais bonito.
Imagine-se Ary dos Santos hoje em dia a fazer poemas. Provavelmente não escreveria sequer um parágrafo, o mundo ficou muito mais cão com a mudança de milénio.
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