Sou pouco de militâncias, e geralmente deixo andar as carruagens até àquele ponto em que dou os meus célebres coices de caixão à cova.
A palavra "Sindicato" faz-me sempre lembrar a República de Weimar, e a Rosa Luxemburgo, e mulheres a preto e branco, com saias até aos pés, e uns gajos feitos em sangue na rua. Não se ouvem tiros, porque o cinema é mudo.
Desde então, o filme variou muito.
Acho Lurdes Rodrigues execrável, e duvido de que seja um ser humano, tal como eu entendo "ser humano": ela não passa de uma espécie de desenho animado maligno, e negativo, que, se tivesse qualquer ponta de sentimento, ao ver 100 000 gajos, na rua, a cantar o Hino Nacional, teria imediatamente dito, "demito-me, não porque abdique das minhas ideias, mas porque senti que a massa profissional a que as queria aplicar não as suporta, ou as rejeita. Outro que venha, e continue o meu trabalho, ou negoceie aquilo de que eu, por convicção, não posso abdicar".
Teria sido a sua derradeira hipótese de ter saído deste inferno de cabeça erguida, mas esses são os códigos do meu mundo, que, evidentemente, nada tem em comum com essa... criatura, nem com os seus sequazes. Para quem, nessa mesma noite, viu aquela cabeça de viuvinha, com uma fenda no lugar da boca, impávida, como se o Mundo se não tivesse desfeito numa só tarde, percebeu que não estava a lidar com ninguém no seu perfeito juízo: tínhamos, perante nós, uma tarada, e quem negoceia com taradas coloca-se exactamente ao mesmo nível.
Este meu juízo é quase alheio a lutas de docentes: é um figurino para quaisquer duelos sociais. Há pessoas que recusamos, e recusámos, de tal forma, que não é possível continuar a alimentar-lhes quaisquer esperanças de continuidade. Não são muitas, são raras, e Lurdes Rodrigues, como Sócrates, o Vigarista dos diplomas comprados, acabaram por se ter tornado em infelicíssimos exemplos disso.
Recorrendo à História recente, e menos recente, gente com esta catadura não teria resistido muito, nem, debaixo do sombrio consulado de outro ser insuportável, mas que já os teria posto na rua, perante tal pressão social, e falo de Cavaco, figura que execro, quer hoje, em que está velho, quer enquanto Primeiro-Ministro. De Salazar, já nem falaremos, porque há muitos os teria chamado para uma conversa privada, e dito "os senhores não reúnem as condições para poder continuar..."
Portanto, no meu sistema de valores, Lurdes Rodrigues, Valter Lemos e José Sócrates já há muito são meros cadáveres, que aflitivamente persistem em deambular pelos monitores de televisão.
Os Sindicatos desse sector, em contrapartida, mole heterogénea -- e como a Sinistra Ministra muito bem entreviu, em muitos casos, incapaz de cumprir as suas funções docentes, portanto, refugiada em pseudo-poleiros de contestação -- mostrou agora o que já toda a gente sabia: têm preço, e são capazes de se casar por conveniência, e casaram-se com a pior noiva do Mundo, e até vão passar a dar ração ao seu caniche Valter.
Estava a lembrar-me de 100 000 pessoas, por acaso da fina flor das habilitações académicas deste ajuntamento de gente, que ainda persiste em ter o nome de "País", a cantarem o Hino Nacional. Estavam, em coro, a dizer o que, qualquer ouvido decente, numa nação decente, de um tempo decente, imediatamente deveria ter compreendido: há cabeças para rolar, e vamos fazê-las rolar, antes de que a coisa expluda. Nesse dia, num óptica técnica, Valter Lemos e Lurdes Rodrigues faleceram politicamente.
Quanto aos Sindicatos casaram-se agora e casaram-se bem: casaram-se, para defender os seus intereresses, não os das classes que pretendiam defender. 100 000 pessoas é muita gente, que não saiu à rua para agora ser hoje açaimada por um bando de gajos com tão pouco pudor como a Senhora com quem acabaram de contrair matrimónio.
A minha proposta para o Dia "D" é, pois, elementar: 100 000 -- tal é o estado de decomposição do Estado -- não foram suficientes para erradicar o Cancro da Educação, pois, então, vamos começar por erradicar outros cancros, que talvez tenham muito a ver com o mal-estar e a má fama de certas classes deste país: amanhã, Dia "D", os docentes sindicalizados deveriam abandonar, em massa, as associações que alardeiam defendê-los, e agora se acasalaram com o Tumor. Se não foi a Ministra a cair primeiro, pois que antes caiam os Sindicatos, e depois vamos ver o que esse Poder apavorado e titubeante fará, sem Sindicatos, e com 100 000 vozes a cantar em uníssono, debaixo da janela, um épico guerreiro, chamado "A Portuguesa".
Boa noite.
(Edição simultânea em "A Sinistra Ministra", o "KLANDESTINO" e "As Vicentinas de Braganza" )
21 comentários:
É caso para dizer que este tipo só gosta do Paulinho.
Tens saudades do Toninho? Vai a Santa Comba em peregrinação. Leva umas sandes, sempre podes comer a ver a tumba.
No dia D sugiro que se elimine a frequência deste blog (o deste senhor). Sugiro também, que a seguir as sugestões brilhantes que nos propõe, façam como os lemmings: Nadem prá outra margem...
"A minha proposta para o Dia "D" é, pois, elementar: 100 000 -- tal é o estado de decomposição do Estado -- não foram suficientes para erradicar o Cancro da Educação, pois, então, vamos começar por erradicar outros cancros, que talvez tenham muito a ver com o mal-estar e a má fama de certas classes deste país: amanhã, Dia "D", os docentes sindicalizados deveriam abandonar, em massa, as associações que alardeiam defendê-los, e agora se acasalaram com o Tumor. Se não foi a Ministra a cair primeiro, pois que antes caiam os Sindicatos, e depois vamos ver o que esse Poder apavorado e titubeante fará, sem Sindicatos, e com 100 000 vozes a cantar em uníssono, debaixo da janela, um épico guerreiro, chamado "A Portuguesa"."
Há que limpar, mudar, remodelar. É verdade ... a casa está conspurcada do topo às bases.
A maioria que nos desgraça foi eleita por uma minoria.
Os cidadãos têm força se a desejarem. e é isso que os Vitais esqueceram e que estes políticos feitos à pressão nunca souberam.
Arrebenta, és sempre bem-vindo aqui e tu sabes isso (perdoa o 'tu' mas significa uma solidariedade reforçada).
Estamos a passar um tempo confuso e como animais que se adaptam, é natural que mostremos e integremos essa oscilação. Por mim falo.
Se me permitissem um apelo, seria apenas um: deixem sair a humanidade que cada um tem em si (ela está lá, é genética).
Anónimo, o Arrebenta não é fascista, não é de direita.
Anónimo, as maiores ditaduras são as da esquerda e as da direita.
Politicamente, não há meio termo.
Não entendo o propósito de chamar "fascista" veladamente a uma personagem que escreve como escreve o Arrebenta.
O Arrebenta é fascista?
Ou será que um Arrebenta deste género será mais daqueles "... contra os canhões marchar marchar" mas no sentido de "meus caros acabou o entendimento da treta" e os "acordos" onde são transaccionadas futuras colocações e tachos? E o resto do pessoal não tem tacho? Aliás, não tem direito a vida digna? Mas que país é este?
É preciso ir para a rua mas não só cantar frases batidas, e andar com as bandeirinhas a demarcar existências volumétricas - quando se vai para a rua com 100 000 isso é para ter resultados pois é muita gente descontente e era apenas uma classe profissional.
Peço explicações ou não volto mais aqui.
"As Vicentinas de Braganza
As revoluções eufóricas são muito sonoras, vêm para a rua, fazem a festa, deitam foguetes, apanham as canas e vão-se embora. O totalitarismo, não. Deitamo-nos descansados, embalados na lenda da Bela Adormecida, e, quando acordamos, já os gajos estão instalados."
Eu tinha decidido nada mais dizer sobre a luta dos professores e sobre toda esta trapalhada que aconteceu. Tinha decidido só falar da escola pública, dos pais e dos alunos. Deixar que sejam os professores a resolver os seus problemas e eu não sou professor. Vou no entanto abrir uma última excepção porque me parece importante. Concordo com muito do que é dito no texto do Arrebenta, mas não com a sua solução para o dia “D”. Como o Arrebenta diz muito bem, os 100 mil que ocuparam Lisboa são a grande massa dos professores. Ainda me lembro dos tempos em que se falava muito das “massas” e dizia-se que eram elas que tinham de tomar o poder. Se a massa dos professores esteve perto, mas não foi suficiente para destronar a Ministra, pode tomar o poder dos sindicatos. Afinal elas são o sindicato e, se são o seu corpo, também podem muito bem assumir a cabeça. As massas unem-se e tomam os sindicatos que depois se unem entre si para tomarem o Ministério. A linguagem pode parecer datada dos tempos revolucionários mas não é por isso que deixa de ser verdade.
Kaos,
não compreendi. A imagem do Mário foi por ti utilizada de modo evidente. E com ela a imagem de um acordo, entendimento entre os actuais sindicatos. O que propões?
Moriae:
Os sindicatos devem e têm de ser a voz e a vontade dos professores. Só a vocês cabe o direito de decidir. Vocês são “as massas” dos professores e devem poder escolher. Se confiarem nestes dirigentes sindicais (e não estou a dizer para não o fazerem) dêem-lhes todo o apoio e vão para a luta, se não confiam então corram com eles e assumam o comando dos sindicatos. Juntem todos os professores numa força única e partam á conquista daquilo que pensam ter direito, sem cedências e sem perderem de vista os objectivos. Quem sabe não haverá outras carreiras que poderão fazer o mesmo e todos juntos ajudarem a mudar este país.
Moriae:
Quanto á imagem o significado que lhe desejei dar não foi de um acordo, mas de um caminho que aquela dirigente sindical tinha de atravessar por entre as posições da ministra, do Mário e da sua consciência. Um caminho dificil, que a assustava e que ela não sabia onde iria dar.
Kaos,
não fui clara ... referia-me às outras imagens do Mário ...
http://www.blogger.com/%20http://img178.imageshack.us/img178/3376/mlrmarionogueiramaafu6.jpg
e esta
http://www.blogger.com/%20http://img252.imageshack.us/img252/8/marionogueiratrncamaaloin8.jpg%20
Peço desculpa. Porque esta, é muiiiito interessante e quanto a mim, totalmente representativa de um sentimento vigente (meu, sem dúvida!)
O Mário, olha para a pessoa, a sra, para o lado.
assunto seguinte:
(- eu não confio na maioria, quase totalidade, dos dirigentes sindicais que conheço. até agora, tal não foi impeditivo da minha filiação em um sindicato);
- percebi o que querias dizer e agradeço a resposta :)
Mas porque carga de água, volta e meia, se está a discutir se o Arrebenta é fascista ou não?
Já repararam na frequência em que estas discussões ocorrem?
E uns aparecem logo a dizer que não... que ele não é o que parece, e tal e coisa...
Moriae: Este blogue já foi uma plataforma de comunicação com professores. Agora não é.
Moriae:
Quanto às outras imagens a ideia nunca foi a de uma traição por parte do Mário Nogueira nem a de se ter unido à Sinistra. Como no filme da Branca de neve, do que se trata é de um engano, de uma bruxa má que dá uma maça envenenada, ou neste caso um acordo envenenado a alguém que o aceita de boa fé. Como não sei se haverá depois um príncipe que possa dar o beijo da vida à luta dos professores seria bom que este acordo não fosse assinado. Mas não me quero meter mais neste assunto. Deixo isso para os professores que têm a cultura e a obrigação de saber decidir pelas suas cabeças
bjs
Branca de B«Neve incauta fica à mercê de Príncipe Encantado. Possa hoje haver beijos que a despertem (desculpem o arroubo, mas a imagem é sugestiva). Escola Pública - teme que ultrapassa a dimensão sindical. Professores - como trabalhadores, precisam de sindicatos fortes e devem fortalecê-los INTERVINDO e ultrapassando o rancor. NUnca nenhum dia é o último em luta nenhuma. Hoje vou ouvir os meus colegas professores, e fazer-me ouvir quanto possa. E vou formar, também, melhor a minha opinião, para não ser como a origem de tantas ditadiras: auto-iluminado. Força ao blogue
Anónimo das 7:24,
seria muito mais interessante saber que pensas isso mas que assumes a tua posição. A cobardia é a arma dos fracos.
Por mim, podes ausentar-te de cá à vontadinha ...
Kaos,
tenho a certeza que o que explicaste vai ser bem lido :)
obrgada,
bjinho,
M.
Um dos problemas é que os sindicatos defendem apenas os professores do primeiro ciclo.
O que tu queres sei eu!
Quando se tem respostas destas, está tudo dito, né?
diz assim um anónimo:
"O que tu queres sei eu!
15 de Abril de 2008 23:55"
Ó mestre, largue o tacho pá! Porreiro pá!
Os Professores precisam da força dos sindicatos e vocês estão nessa?
É por isso que os "tachos" são transversais.
Há excepções...
de um não tachista
Acabo de ver a Ministra defender os Sindicatos... até que enfim! Fez-se luz...
Tenho vergonha de tudo isto.
Não dou para este peditório!
Maria de Lurdes Rodrigues: inimigo público nº1 - o resto resolve-se em casa!
Um abraço dum companheiro para todas as lutas! Este blog deve de continuar como é!
Pata Negra,
tens o dom de fazer bem :)
'Bigada :)
E como diz a Maria José vitorino, "NUnca nenhum dia é o último em luta nenhuma". E para ela também o meu agradecimento, por ter aceite estar connosco e pelo voto de força.
:)
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