Esta noite convidei Margarida Moreira para jantar. Como não sei qual a dieta de um hipopótamo, decidimos ir ao nepalês, vegetariano, que fica, ali, perto do Hospital dos Capuchos. É uma zona de travestis, mas com o ar que ambos temos, creio que poderíamos jantar discretamente.
E disse-lhe assim -- tratamos-nos por tu, desde aquela cena em que ela demitiu o Charrua, por ter dito que éramos um país de bananas, governado por um filho da puta -- Fui solidário com ela, nessa ocasião, porque, quanto ao Sócrates, ainda vá que não vá, agora não acho que se deva insultar um país da maneira que o Charrua fez. Amigos para sempre, portanto.
"Margarida, cada vez corre mais insistentemente que tu és o próximo nome para a Pasta da Educação..."
A Margarida é uma descaradona: se a quisesse descrever, seria um misto daquele hipopótamo que comeu, segundo Manethon, o primeiro faraó do Egipto, Menes de This, depois de 60 anos de reinado (deve ser horrível acabar 60 anos de reinado na boca de um hipopótamo, mas eram outros tempos, outras vontades...), um misto desse hipopótamo, com aquelas "motards" que dão baldas nas Festas da Cerveja, e com um toquezinho de Celeste Cardona, mas sem aquelas fardas azuis, de botões dourados, que a faziam passar, sempre que ia a Nova Iorque, pelos porteiros carregadores de malas do Waldorf Astoria: resumindo, um objecto "sexy", para qualquer comedor de bifanas, da Estação de Aveiras de Cima, para cima, e, com um bocado de imaginação, também para baixo.
Tenho de fazer aqui uma pausa, e debruçar-me um pouco sobre a semiótica dos penteados. Há em Sociologia, e, mais do que isso, na Estética da Sociologia, um axioma que diz que sempre que alguém muda de penteado é sinal de que vai ser, ou sonha com ser, "benesseado" com o Princípio de Peter, ou o da Ascensão da Máxima Incompetência. Temos exemplos recentes: quando o Arenque Fumado do PSD sonhou com ser Primeira-Ministra, imediatamente todos os secadores de inacreditáveis cabeleireiros de bairro, só existentes em Portugal, nas medinas de Tunis e nos bairros bácoros da segunda periferia de Istambul... e, ah, sim, também em Beirute, zona sunita, se debruçaram sobre a massa pilosa da mulher, atirando-lhe aquilo tudo para trás, bem esticado, em volutas da Igreja do Jesú, em Roma, e deixando a descoberto coisas terríveis, como quando se arrancam os azulejos de uma parede de casa-de-banho, e só ficam as pegadas da argamassa, marcas, rugas, e cavidades geológias que lhe deixavam ver derme e epiderme até ao tempo das Trilobites. Depois, com o tempo, e quando ela entrou naquela fase do jejum do silêncio, e de só dizer disparates, e, de dentro do Partido, a começaram a mimosear com coisas que nem a uma cadela se dizem, o penteado foi assentado, compondo-se mais de acordo com as cavidades fisionómicas, ao ponto de hoje já estar numa espécie de capachinho-fêmea, gorduroso, muito à Fernando Gomes ("Câmbra" Municipal do Porto) que já deixa antever, em pleno, o desastre eleitoral de 2009. Valter Lemos tem sido coerente, na sua capilaridade, e continua a viver o nirvana dos caniches, uma espécie de Serafim Saudade da Lúcia Piloto. Recuando, podíamos ir à Cabra Alta, esposa da "Chorona" de Sampaio e àqueles sacrários que ela tinha na testa, misto das Colunas de Bernini, em São Pedro, com o recheio de um daqueles colchões usados que as porcas põem à socapa, em noites de lua-nova, perto do latão verde do lixo. A Amostra Clínica, Maria de Belém, também cuidava dessa marca da sua imagem, já que o cabelo, sempre esticado para o lado, como nas Infantas de Velasquez, lhe garantia o seu carácter de Jerusalém Celeste, igual em comprimento, altura e largura.
Não nos percamos, porém, nas pilosidades, embora não possamos ignorar que o súbito reaparecimento de Margarida Moreira, o Hipopótamo da DREN, por tudo quanto é canal de televisão, COM PENTEADO NOVO, nada de bom augura.
Há nela algo de Sarah Palin, porque, quando abre a boca, não é como a Lurdes Rodrigues, que escrevia artigos em revistas anarquistas, "A Ideia", antes de dar em gaja com ar de redactora de epitáfios de infinita saudade da Agência "Servilusa" -- a sua alegria e permanência no Além -- mas é magnética, agita bem as pulseiras de prata de Salvador -- sinal de que também deita os búzios, e vai ouvir os oráculos de Iemanjá -- perto do Farol da fabulosa Baía de Todos os Santos ( e todos os pecados) e sabe soltar vacuidades que nos deixam em suspenso.
A verdade, confessou-me ela, é que o último lançamento de búzios lhe tinha vaticinado uma entrada para a equipa da Educação, para pôr em prática a tal grelha de avaliação do tempo do Salvador Allende, coisa actualíssima, e muito do agrado dos Professores, assim reduzidos à categoria de Alpacas e Lamas, ou mais mangas de alpaca caídos na lama.
Margarida Moreira está recauchutada: sente-se nela a energia de Celeste Cardona, quando era delegada sindical do PCP e dava baldas aos colegas da soldadura, nas sombras dos cavernames dos petroleiros em construção da Lisnave -- outras eras... -- e o alterar do penteado, cheio de nuances e volume, a anunciar uma futura Dona da Rua, deixam imaginar que a 5 de Outubro vai brevemente deixar de ter uma Gata Pingada, para ser ocupada por uma potencial Devoradora de Machos.
Eu sei que a Feira do Sexo encerrou e é necessário arrumar os excedentes em qualquer lugar, mas podiam ter evitado o Ministério da Educação.
O empregado, um tibetano típico, corava, de cada vez que ela abria as pernas e fazia chocalhar o pulseirão de prata, cheio de figas e orixás, aliás, àquela hora, qualquer orixá, que lhe passasse à frente, era figa e... marchava.
O momento mais alto do jantar foi quando a Margarida me revelou as suas intenções políticas: alteração imediata da grelha de avaliação, bordadeiras de Santa Rita de Cássia, pulseiras com "amarrações", e topázios contra o mau-olhado, ah, sim, e o Método "Tentativa-Erro", velho desde Héron de Alexandria, passando a constituir indicador o... tamanho.
"Luís, dizia-me ela, achas que os tibetanos têm o... indicador... grande?..."
e eu,
"Guida, a acreditar na pragmática de que quanto mais para Oriente se caminha mais o indicador... diminui, suponho que devemos apostar mesmo na Bahia, em Osum, em Yeye, para que a Educação acabe nas mãozinhas do Bonfim...
Era a hora da sobremesa.
Alta, a Lua marcava a bóbada dos Céus.
Sou um cavalheiro, paguei, e saí, de braço dado com a futura Ministra da Educação. Descemos a Luciano Cordeiro, esquina sim, esquina não, parava um carro e perguntava se alinhávamos em "swing", com casais. Eu respondia-lhes que não me chamava McCann, mas ela, mais liberal, mais efusiva, a mostrar que a Educação ia entrar num novo paradigma, abria as mandíbulas, e fazia um sorriso de hipopótamo, e respondia, com um hálito terrível: "e por que não?... Já se viu tanta coisa na 5 de Outubro..."
(Pentagrama obsceno, no "Arrebenta-SOL", no "A Sinistra Ministra", no "Democracia em Portugal", no "KLANDESTINO", e em "The Braganza Mothers")
1 comentário:
Outro que quer pertencer aos Malucos do Riso.
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