20090330

Perguntas | Mário Crespo

"Porque é que o cidadão José Sócrates ainda não foi constituído arguido no processo Freeport? Porque é que Charles Smith e Manuel Pedro foram constituídos arguidos e José Sócrates não foi? Como é que, estando o epicentro de todo o caso situado num despacho de aprovação exarado no Ministério de Sócrates, ainda ninguém desse Ministério foi constituído arguido? Como é que, havendo suspeitas de irregularidades num Ministério tutelado por José Sócrates, ele não está sequer a ser objecto de investigação? Com que fundamento é que o procurador-geral da República passa atestados públicos de inocência ao primeiro-ministro? Como é que pode garantir essa inocência se o primeiro-ministro não foi nem está a ser investigado? Como é possível não ser necessário investigar José Sócrates se as dúvidas se centram em áreas da sua responsabilidade directa? Como é possível não o investigar face a todos os indícios já conhecidos? Que pressões estão a ser feitas sobre os magistrados do Ministério Público que trabalham no caso Freeport? A quem é que o presidente do Sindicato dos Magistrados do Ministério Público se está a referir? Se, como dizem, o estatuto de arguido protege quem o recebe, porque é José Sócrates não é objecto dessa protecção institucional? Será que face ao conjunto de elementos insofismáveis e já públicos qualquer outro cidadão não teria já sido constituído arguido? Haverá duas justiças? Será que qualquer outro cidadão não estaria já a ser investigado? Como é que as embaixadas em Lisboa estarão a informar os seus governos sobre o caso Freeport? O que é que dirão do primeiro-ministro de Portugal? O que é que dirão da justiça em Portugal? O que é que estarão a dizer de Portugal? Que efeito estará tudo isto a ter na respeitabilidade do país? Que efeitos terá um Primeiro-ministro na situação de José Sócrates no rating de confiança financeira da República Portuguesa? Quantos pontos a mais de juros é que nos estão a cobrar devido à desconfiança que isto inspira lá fora? E cá dentro também? Que efeitos terá um caso como o Freeport na auto-estima dos portugueses? Quanto é que nos vai custar o caso Freeport? Será que havia ambiente para serem trocados favores por dinheiros no Ministério que José Sócrates tutelou? Se não havia, porque é que José Sócrates, como a lei o prevê, não se constitui assistente no processo Freeport para, com o seu conhecimento único dos factos, ajudar o Ministério Público a levar a investigação a bom termo? Como é que a TVI conseguiu a gravação da conversa sobre o Freeport? Quem é que no Reino Unido está tão ultrajado e zangado com Sócrates para a divulgar? E em Portugal, porque é que a Procuradoria-Geral da República ignorou a gravação quando lhe foi apresentada? E o que é que vai fazer agora que o registo é público? Porque é que o presidente da República não se pronuncia sobre isto? Nem convoca o Conselho de Estado? Como é que, a meio de um processo de investigação jornalística, a ERC se atreve a admoestar a informação da TVI anunciando que a tem sob olho? Será que José Sócrates entendeu que a imensa vaia que levou no CCB na sexta à noite não foi só por ter feito atrasar meia hora o início da ópera?

Nota: O Director de Informação da Antena 1 fez publicar neste jornal uma resposta à minha crítica ao anúncio contra as manifestações sindicais que a estação pública transmitiu. É um direito que lhe assiste. O Direito de Resposta é o filho querido dessa mãe de todas as liberdades que é a Liberdade de Expressão. Bem-haja o jornal que tão elevadamente respeita esse valor. É uma honra escrever aqui."

Fonte: JN

4 comentários:

rendadebilros disse...

Estas são as perguntas que as pessoas vão fazendo e aqui sistematizadas à maneira magistral de Mário Crespo...
E agora, o Pm também vai processar o Daily Mail??? ... que traz esta notícia:
http://www.dailymail.co.uk/news/article-1133106/Edward-Sophie-Portugals-PM--4m-corruption-row-giant-mall-built-British-firm.html

mfm disse...

Duvido que alguma vez teremos respostas a estas perguntas . Parece ,que ainda há muitos Portugueses que gostam do quero posso e mando ,enquanto assim for não podemos esperar que alguma coisa se altere .
mfm

Bea disse...

Já tinha recebido por mail e reencaminhei para mutios pelo valor que lhe encontrei, pq sistematiza tudo o que pensamos e estamos fartos de bradar mas ninguém nos ouve. Perdeu-se a vergonha neste país!

Anónimo disse...

Detesto a maneira como o Procurador faz suspense, anunciando com grande antecedência que irá fazer uma comunicação: mais parece "PR" e não "PGR" nesta forma enfática e solene como quer chamar a si as luzes da ribalta.
Mas que raio de teatro é este?
O espectáculo do poder é uma mera fantochada; querem-nos fazer crer que estão muito vigilantes e que tudo é feito de acordo com a lei, num «estado de direito». Na realidade, estamos perante a dissolução total da própria legalidade do estado, sob as aparências. Hoje, o estado está exclusivamente ao serviço de interesses obscursos e ambições políticas pessoais, facilmente manobradas por lóbis capitalistas. O que ganhou a empreitada do «Freeport» é apenas um entre muitos. Assim se servem do estado, do país, para os seus tráficos de influência, também nos sucessivos «elefantes brancos» que vamos continuar a suportar, mesmo no contexto de crise, em que umas somas assustadoras são devoradas em «estudos» de muito duvidosa pertinência e utilidade, em termos públicos.
Manuel Baptista